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Max Ernst, Ubu imperador

 

O DESEJO DANÇA NA POEIRA DO TEMPO

(opereta em três actos)

 

(Nicolau Saião, sobre uma ideia de Almeida e Sousa)

 

(Música e concepção cénica de Nicolau Saião)

 

«Jehan Rictus disait: rêvons toujours, ça coute rien. C’est faux : ça coute bien dur.»

Marcel Delpach

 

 

 

PRIMEIRO ACTO

 

(Música. Solo de flauta. Um espaço degradado. Há lixo com altura suficiente para se esconderem algumas personagens. Numa banheira está um homem, Thiagus. Parece adormecido e a sua mão segura uma garrafa. Haverá ainda alguns sacos espalhados pelo chão. Um som de voz ecoa na sala. Indistinta. Depois perceptível . A música cessa)

 

Voz – Como um coice de luz

partem.

A terra espera o mar ao longe

a noite aproxima-se como um corpo nu

contempla

a poeira do tempo.

Deleita-nos

palavra a palavra.

O caminho é penoso

palavra a palavra

palavra

a palavra

palavra a palavra.

 

(Saem, do lixo, três personagens. Movimentam-se pelo espaço. Agarram os sacos e carregam-nos às costas – vão colocá-los noutro ponto para que outra figura os possa agarrar (movimentos repetitivos; depois imobilizam-se. Thiagus leva a garrafa à boca, bebe e espreguiça-se com os ruídos habituais de arfar, roncar, pigarrear...)

 

Thiagus – Apenas imagens

de portas

de chaves

que abrem outras imagens com

praias e

um carnaval distante.

Portas abertas a paisagens geladas.

 

(O fumo que se ergue do chão anuncia a chegada da bela Estephania – a sacerdotisa empregada de balcão que, num ritual próximo dum bailado tântrico, nos narra com determinação)

 

Estephania – Direi um poema sintonizando

                        ritmos     aventuras pouco ortodoxas e

                        talvez

                        tudo seja já a obscuridade.  E

            entredentes

            devagarinho

            conto-te histórias de bruxas loiras ruivas morenas que sussurram

            e inundam de penumbra os sonhos dos poetas, dos bilheteiros

            das estações de combóio, dos que comem duma lata a sua merenda

            às quatro da tarde

            dos que nada têm a perder e nada tiveram a ganhar

            os que andam

            os que navegam

            os que voam

            os que param e olham em volta.

 

(O solo de violino, a que se juntam as flautas)

 

            A cidade

            é invadida por pombas brancas e

            eu busco o horizonte na fuga sublime,  nostálgica

            de um pesadelo

            De imagens

            obscenas

            sinistras

            belas

            com as cores de dentro e de fora

            com o norte e o ocidente misturados

            com o sul e o oriente entre os meus olhos

            para cima

            para baixo

            como uma criança brincando numa sala deserta.

 

(Param as flautas. Entram os tambores, em piano)

 

Thiagus(bocejando ruidosamente e espreguiçando-se) No limiar da construção...

 

Estephania – (como que absorta) Um gesto instantâneo

                        provoca a paixão.

                        Vivamos um acto pessoal e único. Um acto...

 

(Chegam um junto do outro. Abraçam-se. Depois, lentamente, rolam sobre o solo. Thiagus ergue-se de súbito)

 

(Os tambores cessam)

 

Thiagus – Que se passa? Perguntavas tu

                  há pouco tempo

                  por entre retratos de santos amestrados e diabos sonolentos.

                  O bulício da cidade onde te passeavas   provocante

                  apaixonada

                  com os cabelos esvoaçando na manhã

                  por entre edifícios velhos   casas em ruínas   ferros torcidos

                  correntes

                  engrenagens

                  rodas dentadas

                 de transmissão do pensamento.

                 Vendo-te assim

                 desatei a rir  e

                 apesar das muitas palavras que se soltavam   ainda disse

                 A mudez dá prazer

                 O gaguejar alegra a mente e

                 o pensamento   só ou acompanhado

                 lhe dará o sentido

 

Estephania(explicativa) E eu

                        desatei a rir e a chorar

                        porque de vez em quando vislumbro        

                        deslumbrada    o sorriso

                        desse que não está em nenhum lugar

                        O dia

                        a noite simulada

                        um grande espaço em branco onde coloco muitas coisas diferentes.

 

Thiagus (soltando uma sonora risada)

                            Foi por ali ou

                            talvez também por aqui

                            que a tua figura começou a ver-se melhor.  Já reparaste?

                            A madrugada vai chegando até nós

                            com as suas estranhezas e o seu perfume: cães que passam rente às

                            paredes

                            homens de grandes mãos adejando como borboletas

                            mãos que agarram pacotes, mãos que empurram carroças, mãos

                            que limpam o ranho do nariz ou coçam o entrepernas

                            mãos que dão estalinhos com os dedos e levam chávenas de café à

                            boca

                            enfim

                            mãos para todos os usos e costumes    mãos que são gordas

                            como cogumelos

                            e são magras como ramos de larício ou de pinheiro

                            mãos

                            mãozinhas

                            mãozecas

                            Ó mãos, como dizia o outro, vós que tudo podeis ser excepto:

                            ser pés

                            ser olhos

                            ser orelhas

                            e muitas mais coisas é claro   é natural   é mesmo muito provável.

 

(As três figuras que carregavam os sacos  puxam agora cordas num grande esforço. Em resultado deste movimento, entra um pequeno carro (sobrado e quatro rodas) em cima do qual está Brunus. As figuras ficam paradas, pois doravante são o Coro. Começa a ouvir-se uma trompete. Um espectador sai da assistência, entra nos bastidores e o som da trompete cessa, ouvindo-se durante uns segundos o ruído indistinto duma discussão)

 

Brunus – Fico mudo

                a masturbação torna as pessoas surdas

                disse-me um dia

                o padeiro.

                O cura

                olhou-me e suspirou baixinho. Meu filho, repara

                pensar

                leva ao inferno  a não ser

                que ponhas esta medalhinha por cima do coração. Leva a duvidar,

                disse o padeiro

                de novo

                enquanto metia no saco de linho meia-dúzia de carcassas.  Mas o pior,

                disse o cura, ao

                mesmo tempo que tirava dum prato em cima do balcão um bolo de creme

é que deixas de conhecer pai e mãe, gato e cão, sardinha e carapau. E desataram

os dois a rir, e nessa altura apareceu-me uma navalha na mão

e despertei coberto de suor.

 

Estephania (indicando coisas imaginárias no chão) Vês? Este aqui é um cavalinho de brincar. Isto é um apito. E este aqui é o teu tamborzinho azul e amarelo. Lembras-te quando te levavam à Feira todo vestido de novo e penteadinho como um anjo?

(ri docemente)

No jogo da vida e da morte

é bonito usar os acidentes quando a natureza os oferece e

disse cá para comigo

o meu leito está cheio de gente e

quando tudo faz sentido

vale muito mais que um chavo. (Torna-se nostálgica)

Ali era a salinha modesta

onde as tias costuravam debruçadas sobre tecidos de muitas cores.(Baixa a cabeça, como que vencida e destroçada)

 

Coro das 3 figuras – Só muito mais tarde

é que iria estar frio

apesar do corpo quente dela.

 

Brunus – Não havia aquecimento.

                Então eu...

 

Coro(num tom de cantochão) Os curas

            são contagiosos

            Os padeiros são maviosos

            Os bolos são deliciosos.

            O céu cheira a rosas mesmo se nos peidamos.

 

Brunus(dirigindo-se ao público num tom coloquial) Estava frio

compreendem? Eu tinha ido ao cinema nesse dia, um dramalhão de cortar à faca e foi nessa altura que comecei a pensar: se dois e dois são quatro, porquê impedir-me de sonhar com praias repletas de mortos? Estão a ver? (Num tom brejeiro) Amandei-lhe um olhar de derreter pedras, mas... a menina fazeu-se esquiva, tás a ver? Olha lá ó minha nossa senhora do não-me-toques (era eu a jogar ó duro) afinal vamos ó  na vamos, atão mas ist’é como na tropa?

(formal, com uma voz educada e culta) Lembrei-me dos meus vinte e cinco anos.

 A baixela com um lindo desenho de barra azul com florzinhas amarelas

 A toalha a que o primo costumava limpar os dedinhos manchados de chocolate

 O meu tio suspirando como um fole de ferreiro

 de carpinteiro

 de ladrilhador (com grande intimidade, fazendo um gesto cúmplice)

 E foi então que

 eu e ela resistindo

 encolhíamos e

 quando tudo ia fazer sentido

 veio a guerra e puf

 nicles batatóides

 nada de nada

 niente

 não há cá rien de rien

 Então uma grande nuvem escureceu por cima

 e um anjo com uma espada de fogo apareceu à esquina.

 

Coro (tom de música de missa) E se for entendível. E se for perceptível. E se for razoáááável.

 

Brunus – É outra coisa

diferente

Se entendo

é outra coisa

estou a ficar mudo e

ali é o continente misterioso

disse cá para comigo

com esta

fiquei siderado

Sim

entendo perfeitamente

ainda não estava acabado

ela deixou-me sobre um muro

como um craveiro florido, um bichinho de conta, um guardanapo.

 

Coro (como que explicando) Na cama, com o frio, os pensamentos afluem mais facilmente

 

Brunus (com tristeza) Pensei muitas vezes em viajar. Ir a Londres, Paris, Viena. Mas qual quê... A camioneta parava sempre no mesmo larguinho – estão a ver, aquele com uma porta de taberna com uma placa por cima que dizia que ali se vendiam selos de correio... De modo que pensei cá para comigo: e se eu transformasse isto tudo numa reflexão que nos servisse a todos de emenda? Ou de soneto, porque tudo vai e vem quando menos se espera. E de repente...

 

Estephania – E de repente...

 

Thiagus – Nos hipódromos as coisas começaram a correr mal. Os cavalos paravam de súbito, com os olhos no ar, como se procurassem qualquer coisa. E os jóqueis começavam a chorar, como se por fim tivessem compreendido tudo...

 

Brunus – À entrada de um café, dois indivíduos mutuamente desconhecidos desataram à chapada.

 

Estephania – Mas o mais engraçado de tudo foi que num salão nobre durante uma cerimónia oficial o presidente da Câmara borrou-se nas calças ante o horror e o espanto das entidades oficiais!

 

Coro – Aquilo é que foram uns tempos! Duas freiras, num jardim público, começaram a ler Shakespeare com mútuo proveito.

 

Brunus – E um general comprou um giz branco num estaminé e riscou o uniforme de alto a baixo. Não sei se estão a ver: riscadinho, como um quadro-negro ou a face dum guerreiro apache!

 

Coro(cantando com ternura) Chove

                                                   Cai a aguinha

                                                   A aguinha do céu

                                                   Do céu dos pardais

                                                             E nas ruas dlin dlon

                                                   As pessoas passam

                                                   atarefadas

                                                   nos seus jogos

                                                   sérios e melancólicos

                                                   e uma brisa vinda

                                                   dum poema

                                                   muito poema

                                                   muito homenzinho

                                                   transforma-se num pequeno

                                                   animalzinho peludo

                                                   que foge e se esconde

                                                   sob uma cadeira.

                                                   Dlon dlon, dlem dlem

                                                   A mosquinha voa bem

                                                   Dlem dlem, dlon dlon

                                                   Esvoaça sobre o som

                                                   Que faz saber o que é bom

                                                   A um povo sempre mudo

                                                   Sem rei nem roque nem dom

                                                   De saber transformar tudo.

                                                   No Entrudo!

 

Estephania – Ai sim, ai sopas, quem vier atrás que feche a porta. Lembras-te do primeiro dia de escola?

 

Brunus – Eu disse mais coisas, entre as quais esta: porque é que os políticos, em parte, são ladrões e trapaceiros? E mais: porque é que a natação põe as pessoas mudas e a leitura de jornais provoca doenças de fígado e a ida aos grandes rios que correm pelas florestas sombrias nos deixa na alma uma sensação de desespero?

 

Thiagus – Foda-se! E ela?

 

Brunus – Respondeu-me em espanhol: me cago en tu leche. Sem tirar nem pôr... E quando lhe peguei na mão olhou-me com infinita tristeza, como se eu lhe tivesse tirado qualquer coisa muito preciosa. Tinha as faces excessivamente rosadas, tal qual como se tivesse tido...

 

Thiagus Um pensamento estranho ou um...

 

Brunus – Sim. E note que trabalhava num laboratório, acho que era qualquer coisa assim como ver se as comidas estavam passáveis... (Música de flauta em surdina)

 

Thiagus – (com um ar preocupado, mudando o tom de voz) Assim não pode ser, senhor Saraiva. Você tem a certeza de que ele destruiu os papéis?

 

Brunus – Tenho, senhor director. Infelizmente tenho... E dei com os dois, ele e o juiz, numa conversa muito íntima. Quando viram que eu me aproximava, calaram-se. Acha que é caso para comunicarmos superiormente?

 

Thiagus – Acho que sim... Diria que é mesmo imprescindível! Mas... se a coisa vai aos ouvidos de...

 

Brunus – É o diabo, senhor director! E não há possibilidade de ser nomeado outro juiz, um que não seja corrupto?

 

Thiagus – Cale-se, Saraiva, por amor de Deus! Não fale em corrupção, que as paredes têm ouvidos. A possibilidade é apenas conseguirmos chegar ao primeiro-minis...

 

Brunus(interrompendo-o firmemente) Shiiiiiu lhe digo eu agora, senhor director! Não fale com ninguém... ou estamos fritos! Eles têm assassinos a soldo, homem! Pela saúde dos meus filhos, temos de nos calar bem caladinhos...

 

Thiagus – Mas não seria má idéia fazermos chegar os papéis que não conseguiram destruir a alguém da Oposição...

 

Brunus – Não seja ingénuo, por amor de quem lá tem! Vamos mas é calar-nos que nem ratos. Aparentar descontracção. E, se possível, metermos a reforma mais cedo... e irmos para o estrangeiro...

 

Thiagus – A vida é uma porra, Saraiva...

 

Brunus – A quem o diz, senhor director! A quem o diz! (Entram violinos, por uns segundos)

 

Estephania – (muito terna, para o público)  Foi então que eu percebi que por ali não ia a lado nenhum. A questão do cura, a questão do padeiro panasca que um dia lhe quisera abafar o pirilau... creio que me faço entender. No dia seguinte, quando descia a escada, ouvi um grande barulho e dois tipos aos tiros abateram uma vizinha que por azar se metera no meio. Negócios de vigaristas que se tinham desentendido e tudo acabou em mal.

 

Coro – (cantando em estilo de zarzuela, a que a música, mudando, dá o arrimo) Os   curas e os padeiros

            são como vírus

            Contagiosos e muito puros

            simpáticos

            uns companheirões

            sempre prontos prá folia

            ervas crescem-lhes no lado norte

            têm um miradouro no centro

            uma fonte perto das escadas

            Os curas são pau p’ra toda a obra

            São amigos do seu amigo

            trazem blusas de linho

            cobrindo-lhes os seios

            Os padeiros são fenomenais

            são bons remadores

            rosas os coroam pela tardinha

            e dão um porco a quem lhes dá uma sardinha.

 

Brunus – Bom, bom, deixe lá os detalhes. O que eu queria saber é porque é que o meu amigo não arranjou emprego por exemplo numa empresa de arquitectura, ou meteu os    papéis para o funcionalismo público. (A música cessa)

 

Coro – (em voz normal) Isto é o êxtase

todos procuramos o êxtase e

quando se experimenta uma vez

sempre se procura

a exaltação

essa que te faz levantar

correr sem destino

ser um gato pequenino

e ter o mar na mão

 

Brunus – Eu disse

o meu leito está cheio de gente

não havia aquecimento

ela perguntou

que te parece

eu ri

porque estava mudo

ela fugiu com o  padeiro o cura e dois oficiais de finanças

e eu chorei.

Valeu bem a pena

tinha cá um parzinho de pernas

queria passar à eliminatória seguinte

ainda podia ser campeã

de voleibol basquetebol

mas o destino não quis

e ficou sempre a ver navios

duma pérgola junto à praia

enquanto os aviões sulcavam mansamente o firmamento sobre a serra

lá onde os fantasmas se acocoram

para melhor verem o paraíso.

 

Apraz-me pensar que ela fugiu quando o céu

lá fora

caía apodrecido e

eu gritava

gosto do cheiro dos castanheiros disse-lhe eu

e quando o assassino arremeteu contra mim

com o facalhão em riste

perguntei a mim próprio

enquanto lhe metia um balázio na pinha

porque teremos nós de guardar as recordações

fechadas a sete chaves

num pequeno baú escondido debaixo da cama.

 

Coro – Para os curas isso é muito agradááááável!

 

Brunus – Chiça! Lá vem ele outra vez com a merda dos curas. Será um anticlericalismo primário? Duma vez por todas: eles são animistas, têm uma relação muito forte com a terra e o brilho da Lua. Eles são

amáveis e puros como os lobinhos aos dois meses. Eles têm em volta do corpo

grandes extensões de pomar com laranjas e maçãs reinetas.

 

Coro – Eles fazem sexo virtual

            com as auroras e os dias bissextos. E não me venha com mais histórias

            desse  jaez. Entendeu?

      

Thiagus – Mas poderia ter dito

                 gosto muito mais de ti

                 que de castanhas. O amor

                 não deve dispensar a fantasia. Quando tudo nos foge

                 sigamos em frente ou na retaguarda como os animais e os condenados

                 pois é essa a nossa força para a imortalidade.

                 O amor

                 o escrever

                 é como

                 um tacho de sopa

                 nem mais

                 um tacho de sopa de grão

                 com os paladares todos no sítio

                 ou então um pulo na direcção da sombra

                 numa tarde de Sábado

                 quando o vento sopra mansamente na Gardunha.

 

Estephania – (irónica) O discurso que improvisei era uma relação com a vida

                       mas podia ser qualquer outra coisa

                       seduz-me  pensar com

                       a pele

                       a febre

                       o cheiro

                       o sabor

                       isso tudo

                       e quando o meu leito está cheio de gente

                       é que eu vejo como os minutos são como aparas de madeira

                       pedaços de papel pintado

                      velhos tecidos amarfanhados. (para um dos do coro) Já agora, pá

                      dás-me aí um cigarrinho?

 

Thiagus – É uma contadora de histórias efémeras e todavia actuais!

 

Brunus – Ora vai cagar. A honradez não te diz nada e então ultrapassas a questão com

                  um abismo de incertezas. Em volta, gente passava, infeliz como sempre,

                  com  um sorriso ameno que

                  cada vez é mais breve.

 

Estephania – Acontece antes de dormir quando

                       faz frio lá fora

                       quando chove ou faz um calor infernal  e então

                       apraz-me pensar

                       que afinal, quando passeávamos pela rua era tudo verdade.

 

(Música: o solo de flauta. Lírica, a seguir agitada. Vai escurecendo)

 

(Fim do primeiro acto)

 

Segundo acto

 

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