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Alberto Lacet

 

ELOGIO DO DILACERAMENTO” E OUTROS POEMAS

 

(D’Almeida J.)

 

 

Silêncio. Noite. Caos

 

Contrariamente à palavra

à agitação da palavra

coisas há que só o silêncio

o movimento do silêncio

pode dizer...

 

Escuta. Escuta em torno de ti.

 

Letais como punhais

silêncios há que matam,

outros que ferem,

outros ainda que sangram...

 

... mas não há nada que cale mais fundo

que esse silêncio gutural

que esse grito primal

que é o silêncio do Caos...

 

Entre a noite e o firmamento

percorro os corredores da eternidade

de par em par abro

as portas do infinito e escuto

o único silêncio

que realmente é d’ouro...

 

 

 

 

Elogio do Dilaceramento

 

Esta idade não é

não pode ser o tempo da felicidade.

Apesar de ferido de morte, o animal

recusa-se a perecer.

Exacerbam-se o desejo e a posse. Vivo

entre formas tenebrosas e densas

alérgicas à luz. Permanentemente insatisfeito

perco-me nas coisas – just enough

is never enough.

À lentidão e meio-termo da penumbra

prefiro o sol do meio-dia

as promessas das trevas e

o ritmo endiabrado do efémero.

Os amigos são raros

as esquinas sucedem-se

e tudo isto ao mesmo tempo

atemoriza-me e atrai-me...

 

De sul norte este e oeste

divergem os caminhos que me afastam

do meu secreto centro.

Esses caminhos são fantasmas do passado.

Labirintos. Ajustes de contas sempre adiados.

O que fui e não consigo deixar de ser

noites brancas e

dias negros, cada ínfimo instante do mundo...

Tento esquecer.

Tento esquecer e aproximar-me do centro

mas a memória trai-me:

– continuo a ignorar

quem ou o que se reflecte...

no espelho.

 

 

 

  

A ARTE D’AMAR(GURA)

 

Guardar o anonimato.

Não deixar quaisquer vestígios

nem humanos nem animais mas

sobretudo Humanos.

Repelir a ternura

e para que os nossos ombros se não

dobrem e lentamente a alma

se não consuma sob o peso

e a chama morosa

do fardo da intimidade:

– Fugir da prisão dos nomes.

 

Nunca tivemos encontro

marcado com o destino,

apenas comparecemos

apenas colidimos:

– Assim se pavoneia

(sem nunca deixar quaisquer vestígios!)

a moderna arte d’amar(gura)...

 

 

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