Os
meus três pecados Dada
(Céline
Arnauld)
Sobe,
sobe a colina
oh
roda esmagada roda
quebrada
pupila amarga
amargo
abrunho dos bosques
oh
tu que sobes assobiando
e
que és um cobertor velho
o
hino das crianças amadas.
Os
olhos dos papagaios são bolinhas enganadoras.
Vós
não sois deuses, mantilhas
ou
escuros guarda-chuvas, nem mecanismos de toque
de
alvorada.
Vós
sois o anfitrião dum Amphion sem lira
uma
vela sem poesia
uma
majestade sem reflexos de música
o
nascimento semanal dum girassol
–
o girassol da minha prece –
e
os meus olhos de roda quebrada
que
envio ao grande mágico Merlin.
Para
me castigar irei imolar-me numa adega.
Este
é o pecado do fogacho quase extinto.
Ah
sorte malina!
Beber
uísque numa flor-de-lis
discussão
espiritual da minha traição a sós
com
a sua imagem
e
depois dormir, dormir até que uma esmola
dos
olhos tombada deslizasse nas minhas veias
Mas
o que dei ao papagaio
não,
para vós não é –
Amizade
não se escreve em estenografia.
E
é sempre essa roda, esse suplício
quebrado
que me atormenta.
Para
consertá-lo tomo
Merlin
como testemunha
a
escada como ícone
o
vidro como microscópio
o
copo como microscópio
e
as minhas belas pupilas
como
a linguagem mais formosa.
E
depois, já que tudo acabou
iremos
deitar abaixo
o
edifício construído
sobre
uma prisão e um suplício
na
adega das discussões espirituais
do
seu calvário de uísque.
(in “Cannibale” nº 2)
(Tradução
de Nicolau Saião)
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