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O polvo
Coisa de
pura
sobrevivência,
o polvo
transforma-se em
pedra,
transforma-se em
coral,
areia,
alga, água
de mar trevoso. –
Perscruta
com olho
sagaz
o perigo
que espreita
do fundo
do azul
ou, então,
trocando-se por um rastro
de negro
engodo,
foge
em
disparada.
(Renato Suttana - Desenho de Nicolau
Saião)
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Bichos
(Poemas de
Renato Suttana - Apresentação e ilustrações de Nicolau Saião - 58
páginas)
"Em Renato Suttana o
bicho, esse animal de muitas faces e muitos reflexos, aparece-nos
como um ser quotidiano. Está ali porque foi de sua condição existir
daquela maneira e não doutra. Como um homem por extenso, o animal
bipes implume da antropologia, os bichos de Suttana têm as suas
características muito peculiares, muito próprias e estão sujeitos ao
olhar do poeta que lhes descobre o segredo. Têm também o seu
mistério muito deles, para o dizer desta forma. Têm, na
verdade, quase um destino, além de terem quase que um perfil de
cidadãos. Digamos que o poeta, duma forma contida e simultaneamente
exaltante, os revela no seu autêntico ser e, assim, lhes devolve a
dignidade: mesmo que a cobra morda, a barata desagrade, o
rinoceronte ataque cegamente e o leopardo devore à falsa-fé.
Participantes que eram dum teatro de sombras, aí estão eles agora a
existir no nosso mundo – que é o mundo que o Homem pensa e em que se
pensa, o mundo em que até uma pobre carriça pode ter voz pessoal ou
uma trajectória biografada. E não era Rimbaud que nos dizia que o
Homem fala não só por si mas também pelos animais?" (Nicolau
Saião, Algumas palavras - para texto completo,
clique aqui)
Leia também as resenhas
O bestiário na poesia de Renato Suttana,
de Miguel Carneiro, Quintal? Zoológico? Poesia,
de Wladimir Saldanha, e o ensaio Bichos:
investigando os contornos de uma poética,
de Júlio Bernardo Machinski.
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