A
EVA DE RODIN*
(Wladimir
Saldanha)
§
Custou
5.000 francos e devia
flanquear,
do Inferno,
a
Porta. Nua,
abraçava
a si mesma, perna
esquerda
levemente
flexionada.
Mais
nada. Esta
Esta mulher
de
pé, esta mulher
evanescente,
não
acabo de fazer
e
me deixa a mão dormente...
E
nada. Que matéria
Que matéria
subtrai-se?
Que volúpia
no
ilíaco? E, na fronte,
que
cabisbaixo horizonte
entretanto
se subleva?
(Quisera
saber. Tirar, de Adão
–
há muito o findara –,
costela,
resposta.)
§
Dava
uma volta.
A
mulher
– antecipava –
será
sempre este mistério: Camille,
Francesca,
Adèle... Mas esta
me
parece tão imbele,
e
talvez que só engorde!
E
nada.
§
Anna
Abruzzezzi, a modelo,
queixava-se
do frio. Resfriada,
foi
por isso que, sem avisar,
espaçou
as sessões? Por isso
–
vento cortante –
um
dia, simplesmente, nunca mais
–
ave enxotada –
po(u)sou?
§
Ai
de mim, ai de mim,
que
cansei de teu exame!
Deste
éden que dá cãibra,
dispensei
a pobre Anne:
lembra
dela
ou me destrói, à picareta...
Era
a própria
obra.
Não aceita:
§
...
que certeza, que medo,
que
displasia de seios,
nessa
Eva, nessa Eva,
que
não sei o que sugere,
nem
fruto mau que digere,
inchaço
em cada qual
desses
pés – e que azia,
ou
certa melancolia,
e
de novo aqueles seios...
E,
metida pelos meios,
uma
inveja de Caim.
§
Sim
– avô, ou artista,
ou
Deus,
então foi que entendeu:
minha
Anna
minha Eva
estava
grávida!
§
Abandonou
aquela, aquele
–
disse: “acaso feliz”.
Tentou
mais uma
Eva,
menor. Outra mais
(que,
sobre um rochedo,
era
a mesma, aliás).
Exausto,
arrumou
finalmente três Adões
–
vexados, mas desembruxados –
na
Porta e livrou-se
(pensou)
daquele
Inferno.
*Sobre:
Dujardin-Beaumetz, Entretiens
avec Rodin, apud
catálogos da moda.
|