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Edward Hopper

 

O AMADOR DE POEMAS

 

(Paul Valéry)

 

 

SE olho de repente para o meu verdadeiro pensamento, não me consolo com o ter que sofrer esta palavra interior sem  pessoa e sem origem; estas figuras efémeras; esta infinidade de empresas interrompidas por sua própria facilidade, que se transformam uma na outra, sem que nada mude com elas. Incoerente sem o parecer, nulo instantaneamente em ser espontâneo, o pensamento, de sua própria natureza, é falho de estilo.

 

MAS nem todos os dias possuo a força de propor à minha atenção alguns seres necessários, nem de fingir os obstáculos espirituais que formariam uma aparência de começo, de plenitude e de fim, em lugar da minha insuportável fuga.

 

UM poema é uma duração, durante a qual, leitor, respiro uma lei que foi preparada; dou o meu sopro e as máquinas da minha voz; ou somente o seu poder, que se concilia com o silêncio.

 

EU abandono-me ao adorável andamento: ler, viver aonde levam as palavras. A sua aparição está escrita. Suas sonoridades concertadas. O seu agitar compõe-se, segundo uma meditação anterior, e elas precipitam-se em grupos magníficos ou puros, na ressonância. Mesmo os meus espantos estão assegurados: foram previamente escondidos, e fazem parte do número.

 

MOVIDO pela escrita fatal, e se a métrica encadeia sem regresso a minha memória, sinto cada palavra em toda a sua força, por tê-la esperado indefinidamente. Esta medida que me transporta e que eu coloro, guarda-me do verdadeiro e do falso. Nem a dúvida me divide, nem a razão me lavra. Nenhum acaso, mas uma sorte extraordinária se fortifica; encontro sem esforço a linguagem desta felicidade; e penso por artifício, um pensamento todo certo, maravilhosamente previdente,--com as lacunas calculadas, sem trevas involuntárias, cujo movimento me comanda e cuja quantidade me preenche: um pensamento singularmente acabado.

 

(Tradução de Sephi Alter)

 

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