DEUS
PENSA NO HOMEM
(Jules
Supervielle)
Não
sei como exatamente
Mas
terá o meu semblante,
Eu
que sou todos os mundos
Com
cada um de seus instantes.
Vou
separá-lo do resto
E
isolá-lo entre meus braços;
Quero
adotar os seus gestos
Antes
que seja o que será.
Já
posso vê-lo à janela
De
uma casa que ainda não há.
Tateio-o,
toco-o com os dedos,
Dou-lhe
forma sem querer,
Dou-o
a mim, tiro-o de mim,
Pois
tenho pressa de o ver!
Observo-o
tanto, retardo-o
Por
melhor o conceber!
Às
vezes, informe, saltas,
Te
afastas e entras na noite
Ou,
crescido, tu me escalas
E
te tornas um gigante.
Eu
que a todo olhar me finto
Quero-te
ao longe visível,
Eu
que sou silêncio infindo
Te
ensinarei a palavra,
Eu
que não posso pousar
Quero-te
firme sobre os pés,
Eu
que estou em toda parte
Quero-te
num só lugar,
Eu
que estou em minha lenda
Sozinho
como um cordeiro
Perdido
na mata horrenda,
Eu
que não como nem bebo
Quero-te
à mesa assentado
Com
tua esposa ao teu lado,
Eu
que sou supremo sempre
E
desconheço o cansaço,
Eu
que de mim nada faço,
Pois
que não posso terminar –
Quero
que sejas perecível,
Serás
mortal, meu menino,
E
eu te embalarei no berço
Da
terra, onde árvores cresçam.
(Tradução
de Renato Suttana)
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