(Sephi
Alter)
imagens de Nicolau Saião
Falta o verbo que dissesse
aquela vida
Das folhas acesas atrás das
linhas.
Ao fundo, dormem árvores
Lentas e inexoráveis, tecendo
abstracções
Inventando alfabetos com
chaminés humanas
Ideias de fogo, habitáveis em
plena neve.
Conversas com a luz. Ela entra e
diz
Dos seus encontros com as
coisas, dos sons de pedra,
Das florestas. Faz-nos aparecer
contra um céu
Completamente branco.
Inscreve-nos um pouco mais além
Dos ramos estendidos. Surgem
respostas a pouco e pouco
Sobre a rocha transparente,
gestos sem voz revelam-se
Encantamentos, fadas atrasadas
para a festa.
Primeiro acorrem as lágrimas
Sem tristeza sobem e limpam o
olhar.
Vêm depois os pássaros
Feitos de um pó impossível, de
um
Voo mais alegre do que a própria
luz
Agora, mulheres, cada vez mais
perto, três
Rainhas magas, bruxas, passeiam
no restolho.
O chão nasce-lhes da boca em
fórmulas mágicas.
Abrem estradas a um ritmo
redondo, inevitáveis.
Não se dá pela noite a cair.
Vento imaginário. Vento de
livros. Vento leste.
Eu olhava a colina da graça,
Olhava a parede de livros que me
impede a graça,
Quando as árvores caíram .
Ninguém apagou as luzes.
O vento leste quis as raízes de
fora. Eram letras, afinal.
Tudo se inclinou perante o
vento, perante o tempo de papel que fazia
Entre a parede e a colina .
Árvores deitadas eram vida sem
nome,
As mulheres pareciam chamas a
dormir.
Reparo no milagre. O rei, nu
para a festa,
Sai a dançar no vazio com a
pele vazia, e um mundo
Pintado sobre a pele vazia
Tantas orelhas,
Uma grinalda delas, oblíqua,
escorre para o mar, sobre os ombros.
Não se sabe a beleza indistinta
que ali pousa, entre ilha e revoada .
O coração do rei ainda está na
árvore, quase maduro.
Ficam as letras do prodígio
sobre a margem.
Então o som ganha espessura,
deixa-se tocar.
Surge o ouro branco, vazio,
pairando.
Abrem-se pequenas asas sobre
A escuridão. Cai a noite, no
imenso
Mar da música visível.
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