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Henri Matisse

 

ALENTOS

 

(Sephi alter)

 

 

I

 

a amendoeira

acho que é dia

vou entre línguas

que ninguém sabe

amarga e branca

em pleno inverno

o sol já vinha

florescia

fora da amêndoa

dentro das línguas

ninguém sabia

que despertava

com a flor primeira

acho que é dia

 

 

 

 

II

 

mexe mexe damasqueiro

ainda sem  folhas ali

com as origens à mostra

todo o por dentro de fora

 

que até se vê através

das flores que não vieram

toca no que ainda dorme

mexe no mês de Janeiro

 

fica desarmado um ninho

onde o tronco se bifurca

desabitado  uma roda

de restos em turbilhão

 

mexe dentro da origem

toca na polpa do alperce

invisível mas que vem

relâmpago no caminho.

 

 

 

 

III

 

se te lembras da China

ou se já tudo esqueceste, diz,

amoreira tão alta, cansada de

tudo. cantas  agora em silêncio,

escuta-se   

a tua altura sem neve.

lembras-te ao menos do verão

da fadiga, folha após folha

dizendo amoras amoras

dizendo tudo da seda da fruta.

cantar, diziam amoras

nos sinais do Outono

a cair a cantar

 

 

 

 

IV

 

querem as uvas sair daqueles meandros

daquelas matérias mortiças;

vide dormindo sem presença

passa despercebida

tempo concentrado, vida escura

querem que  pague a fé na sepultura

 

que hás-de florir

dar sombra verde uma turba de mãos

estender-te velocíssima

agarrar trepar aumentar invadir o espaço

fazer brotar cabelos de bagaço

 

sei por ouvir dizer

por histórias contadas repetidas

coisas do teu futuro

cachos sumos bebedeiras

bondades crimes carreiras.

 

acreditas que sonhei

estar sentado à tua sombra

num socalco de Lisboa

e depois vinha uma abelha

de Évora com um ferrão

(daqueles que suicidam qualquer abelha em qualquer lugar)

para me comer à mão?

 

 

 

 

V

 

nespereira

não pereira

que já seca

que já arde

na fogueira

pêra seca

sobre a mesa

desespera

a noite inteira

dizes freira

sempre verde

gargalhada

não esperada

cócegas dentro da nêspera

tragédias de Inês Pereira

nome doce

no caroço

abrasivo

na dentada

riso vivo

amarelo

como a casca

como a chama

alaranjada

quatro nozes

vinte vozes

contra a alma

mil algozes

no regresso do Japão

casa queimada não gozes

 

 

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