Águas
(Sephi Alter)
Que fazer deste espelho
Mete medo saber que som virá do
vidro
O terrível eco virá do vidro
A música virá do vidro
A paz virá do vidro
Que não sabe quem repete
Depois o passo é verde
Andar de pés molhados a
Lembrar alegrias ínfimas
Glórias adormecidas
Óperas adormecidas
Sem esperança
Muito antes do rosto
Misturava-se a pressa com o peso
Esculpiam-se chamas
A nadar fora de pé
Muito antes da água
O amor da mãe judia
Cercado de ódio por todos os
lados
Menos por uma pena de ilha
Faceta minúscula da jóia mais
rara
Que adormece o menino ali
Enlouqueces dançando
Virias agora sem corpo
Gasto o corpo na dança louca
Tirar a mais bela para a valsa
Sem reparar no corpo gasto das
valsas
Loucas e gastas ao fundo da sala
Sobra sempre um resto de Inverno
Uma gota de luz em pleno sol
No dilúvio cego do verão
E a promessa esfria afinal
De contas e sombra
Canas esquecidas do
Vento e das carícias
Lamentos prazeres
Em pura memória
Puro esquecimento
Que o soneto me proteja
Escondo-o dentro do chão
Na ombreira do piano
Duas escadas de versos
Do tamanho da voz
Pequenos fins para o sem fim
Toca o transístor na areia
A festa acabou há séculos
São demasiado finos para pegadas
Estes grãos e aliás
Já nada os pisa adeus
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