POEMAS
DE SILVÉRIO DUQUE
UM
BREVE REGRESSO
– Na casa velha
dormem, ainda,
outras canções de antigas tardes,
mas nada nos diz
o eco melancólico destes silêncios.
A fúria das lembranças que se foram
(muito cedo) nos invade a memória
com rosários e rezas;
com as estórias de uma infância
muito além de nosso compreender;
com a ternura antiga
que alongava os dias, os sorrisos
e os nossos supostos sonhos...
Ah, tudo é um imenso vazio que nos povoa as almas!
(Na casa velha de minha infância
as lembranças projetam dores
sobre este olhar perdido).
Feira de Santana, 10 de julho de 1999/10 de julho de 2008.
Moça
com brinco de pérola de Jan van der Meer Van Delft- (1665) Óleo
sobre tela - 46,5 x
40cm
MOÇA
COM BRINCO DE PÉROLA
à
Sr.ª Irene Carneiro da Silva, minha mãe.
Mas,
é assim que emprestamos, à verdade,
a
maravilha oculta em meio às sombras
que
uma luz vai buscar, na intimidade
de
um olhar, outro olhar em meio às dobras
que
o fulgor vai traçar parte por parte...
A
outra metade é escrita pelas sobras
de
um frágil instante entre o real e a arte
que
todo artista traz em suas obras,
e,
esse instante evidente da emoção,
é
quando o olhar desacredita a pérola
na
iminência de um susto, aparição
que
se prende, no mesmo rosto, à auréola
silenciosa
de um lume sobre a tela:
de
amor, toda falena se une à vela.
GALOPE
ao
amigo e velho vaqueiro consanguíneo, Miguel Carneiro
(pr’ uma aquarela à Emilio Moura)
Esquecidos,
no vento, procuramos
por aquilo que outrora fomos – tanto
faz se a luz que nos guia agora é pranto,
se tudo se desfez... Nós perduramos.
Tudo
torna a viver, e reencontramos
a força de existir, o próprio encanto
que transfigura o nosso grito em canto
oportuno, o caminho pr’onde vamos:
é
a memória a deter a nossa sina
de ter, nos pés, os giros que há no mundo
e a vontade de amar que o Amor ensina,
porque
a alma há de fazer sua própria sorte
ante o esplendor mais límpido e profundo
ou do anjo frio que nos trará a morte.
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de Silvério Duque
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