PELA JANELA
(Rafael Rocha Daud)
Pela janela, duas imagens:
o
reflexo da parede do lado de dentro do apartamento
parece um muro, suspenso no ar,
no
lado de fora;
sentimos quase o cheiro da grama,
e
julgaríamos ser capazes de ver um cão
a
correr atrás de flores ao longo desse muro.
Acima dele, a lua, verdadeira,
brilhando quase azulada, de tão branca,
só
um pouco borrada por causa da
imperfeição do vidro da janela.
Gostaria de abrir essa janela,
saltar sobre o muro, e agarrado a ele,
temeroso da queda infalível,
sonhar, olhando para cima,
sentindo a brisa da noite no corpo,
as
mãos espalmadas sobre os tijolos gélidos,
e a
convicção dos amantes, de que
nenhuma noite contemplando a lua
é
uma noite que se passa em solidão.
E
esta janela, fechada, não apenas me aquece,
mas
também a mim, do lado de dentro,
não
me deixa morrer de solidão.
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