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Nicolau Saião

 

BOMBAS DE FALSAS-POESIAS AMEAÇAM O MUNDO

 

(Ronaldo Braga)

 

A noite engolia tudo e a poeira batia impiedosamente em meu rosto, eu esperava encolhido, e sabia que a qualquer momento seria atacado por aquele cachorro de raça ruim, eu sabia e esperava com calma a hora certa de matar aquele cachorro mau, entorpecido por luas opiadas, aquele cachorro enlouquecido e peçonhento a deixar rastro de excrementos e poemas enganadores.

 

A noite ainda cresceria mais e eu estudava aquele mundo estranho, onde cachorros latiam palavras e jardins cortavam poemas perversos nos animais estúpidos com  guitarras choronas e alegres. Era um mundo de madrugadas latejantes e de luas que queimavam amores e pariam sorrisos postiços, era um mundo onde a sinceridade era punida, a individualidade crime e castigada com a mordida do cachorro de raça ruim, que contaminava a todos com sua cara de tolo e de satisfação.

 

Eu sabia que não teria chance no amanhecer, porque todos os outros animais menores estariam ali a me caçarem, olhei ao redor tentando na escuridão sentir algum movimento e para a minha surpresa páginas e páginas voavam na noite escura e desgarradas das páginas poesias me ameaçavam, eram poesias sem nenhum nexo além do sentido da morte, da minha morte, e eu sorrindo me preparei para o pior, as poesias foram crescendo e caíam em mim como bombas de fósforos israelitas e eu lembrei das crianças palestinas assassinadas pelos filhos de deus, e me prometi não perder a serenidade pois a batalha apenas  começava.

 

As poesias sem nexo caíam perto de mim fazendo buracos no solo de mais de dez metros de fundura, a qualquer momento eu voaria pelos ares, aquelas poesias tinham o apoio oficial: do governo, da academia e prefeituras e com elas todas essas casas onde se toma chá e  onde todos se auto-proclamam poetas, toda aquela gente de raça ruim estava ali dando apoios e ajudando nos lançamentos daquelas poesias da morte.

 

Eu não tinha escolha, era esperar e morrer. De vez em quando eu recebia um papel onde eu assinaria e confirmaria a validade das famigeradas casas de cultura, das prefeituras e dos governos e assim eu seria salvo, e ainda poderia ser considerado um artista. Eu rasgava aquela medonha mensagem anti-vida e nada respondia.

 

Por um momento eu acreditei ouvir vozes ao longe e essas vozes foram crescendo e eu pude verificar que a lua agora era prateada e que poesias belas eram ouvidas e que aquelas páginas desgarradas e suas poesias de morte fugiam assustadas e eram elas que agora estavam escondidas e encolhidas, me levantei e pude ver poemas complexos que falavam da vida sem dó, mas sem prisão, sem dogma, sem certo e nem errado apenas as sensações que inflamavam tudo e o mundo continuou turvo, os falsos vermelhos de longe irradiavam ódios impotentes e o cachorro de raça ruim latia um latido inútil e desesperadamente cínico.

 

Eu ao lado dos poetas loucos e donos de seus narizes tive força pra ficar em pé e escrever estas palavras e o sol veio beijar os meus lábios.

 

 

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