BOMBAS
DE FALSAS-POESIAS AMEAÇAM O MUNDO
(Ronaldo
Braga)
A
noite engolia tudo e a poeira batia impiedosamente em meu rosto, eu esperava
encolhido, e sabia que a qualquer momento seria atacado por aquele cachorro
de raça ruim, eu sabia e esperava com calma a hora certa de matar aquele
cachorro mau, entorpecido por luas opiadas, aquele cachorro enlouquecido e
peçonhento a deixar rastro de excrementos e poemas enganadores.
A
noite ainda cresceria mais e eu estudava aquele mundo estranho, onde
cachorros latiam palavras e jardins cortavam poemas perversos nos animais
estúpidos com guitarras choronas e alegres. Era um mundo de
madrugadas latejantes e de luas que queimavam amores e pariam sorrisos postiços,
era um mundo onde a sinceridade era punida, a individualidade crime e
castigada com a mordida do cachorro de raça ruim, que contaminava a todos
com sua cara de tolo e de satisfação.
Eu
sabia que não teria chance no amanhecer, porque todos os outros animais
menores estariam ali a me caçarem, olhei ao redor tentando na escuridão
sentir algum movimento e para a minha surpresa páginas e páginas voavam na
noite escura e desgarradas das páginas poesias me ameaçavam, eram poesias
sem nenhum nexo além do sentido da morte, da minha morte, e eu sorrindo me
preparei para o pior, as poesias foram crescendo e caíam em mim como bombas
de fósforos israelitas e eu lembrei das crianças palestinas assassinadas
pelos filhos de deus, e me prometi não perder a serenidade pois a batalha
apenas começava.
As
poesias sem nexo caíam perto de mim fazendo buracos no solo de mais de dez
metros de fundura, a qualquer momento eu voaria pelos ares, aquelas poesias
tinham o apoio oficial: do governo, da academia e prefeituras e com elas
todas essas casas onde se toma chá e onde todos se auto-proclamam
poetas, toda aquela gente de raça ruim estava ali dando apoios e ajudando
nos lançamentos daquelas poesias da morte.
Eu
não tinha escolha, era esperar e morrer. De vez em quando eu recebia um
papel onde eu assinaria e confirmaria a validade das famigeradas casas de
cultura, das prefeituras e dos governos e assim eu seria salvo, e ainda
poderia ser considerado um artista. Eu rasgava aquela medonha mensagem
anti-vida e nada respondia.
Por
um momento eu acreditei ouvir vozes ao longe e essas vozes foram crescendo e
eu pude verificar que a lua agora era prateada e que poesias belas eram
ouvidas e que aquelas páginas desgarradas e suas poesias de morte fugiam
assustadas e eram elas que agora estavam escondidas e encolhidas, me
levantei e pude ver poemas complexos que falavam da vida sem dó, mas sem
prisão, sem dogma, sem certo e nem errado apenas as sensações que
inflamavam tudo e o mundo continuou turvo, os falsos vermelhos de longe
irradiavam ódios impotentes e o cachorro de raça ruim latia um latido inútil
e desesperadamente cínico.
Eu
ao lado dos poetas loucos e donos de seus narizes tive força pra ficar em pé
e escrever estas palavras e o sol veio beijar os meus lábios.
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