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SONETO

 

(Francisco de Quevedo)

 

Cerrar pode meus olhos a postreira

Sombra, que me levar o branco dia,

E pode desatar minha alma dia,

A seu afã ansioso lisonjeiro;

 

Mas não de estoutra parte na ribeira

Deixará a memória em que se ardia...

Nadará minha chama na água fria

E perderá o respeito à lei severa.

 

Alma que a todo um Deus prisão tem sido,

Veias que humor a tanto fogo deram,

Medulas que gloriosamente arderam,

 

Seu corpo deixará, não seu cuidado,

Hão de ser cinza, mas terão sentido,

Hão de ser pó, mas pó enamorado.

 

 

(Tradução de Renato Suttana)

 

 

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