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Nicolau Saião (arte digital)

 

ORDEM

 

(Renato Suttana)

 

Na vasta planície arenosa, que o sol

fustigava de cima, o exército se distribuía

regularmente

em formações geométricas.

Dentro em pouco se iniciariam as manobras. Um homem

de olhar metálico exercia o comando.

Com efeito, tinha sob seu domínio toda aquela

multidão obediente, que a cada sinal dava mostras

de saber exatamente o que fazer. Entretanto o homem

de olhar metálico não se dirigia a ela diretamente.

Dois ordenanças, alcandorados sobre pequenos tablados

de madeira, encarregavam-se de transmitir ao exército

as vontades do homem

de olhar metálico.

Reinava absoluta ordem

e cada gesto revelava a mais estrita obediência ao homem de olhar metálico.

Vez por outra,

o homem de olhar metálico – alto e majestoso –

montava numa grande carruagem, puxada por cavalos igualmente majestosos,

e se

afastava até o limite inferior da formação. Desapeava,

empertigava-se sobre a areia

e deixava que a carruagem seguisse caminho,

perdendo-se na vastidão da planície deserta.

Um grupo de batedores, alinhados à frente,

o acompanhava na volta até o lugar de onde ele

expedia as ordens ao exército, que aguardava.

Devia haver muitas carruagens,

e provavelmente se trataria de mensageiros,

pois ele repetia com freqüência o movimento de montar,

cavalgar até a orla da formação,

desapear e retornar

a pé até o ponto de onde havia partido.

Um ordenança

ergueu os braços no alto do tablado e assinalou

que alguma coisa estava prestes a começar.

Ouviu-se ao longe o estrondo

de uma fanfarra.

À minha direita estava o grupo dos novatos,

esforçando-se desajeitados para imitar

a perfeição geométrica dos veteranos. Vi que

o ordenança

portava uma espada

com a qual transmitia os sinais aos soldados.

O homem de olhar metálico

observou os novatos. Empertiguei-me também,

vexado,

e senti que meus pés se afundavam na areia quente.

A marcha dos veteranos começou à esquerda:

ensaiavam devagar os primeiros passos

ao comando do ordenança.

O segundo ordenança

fez uma pirueta (cujo significado me escapou)

e

nada aconteceu.

Estremeci, endireitei-me.

À minha direita estavam

os novatos, entusiasmados com a idéia de participarem das manobras.

Ouvi-os, tentando compreender.

Tentando –.

Os sinais

do ordenança

me escapavam completamente.

Eu era o único que não

sabia o que fazer.

 

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