MENSAGEM
(Nicolau Saião)
Ao domingo chega mais tarde o sol do dia
ao
domingo a noite fica dentro do quarto
ao
domingo os pombos comem connosco à mesa
ao
domingo não é assado mas peixe frito
Ao
domingo entre o pijama e a camisola
ao
domingo sente-se o gosto de tempos idos
ao
domingo o sabonete faz mais espuma
ao
domingo entre o cabelo e a paz dos tempos
Ao
domingo lembra-se a neta e a ida à escola
ao
domingo que já não há como o que havia
ao
domingo sabe-se que ontem não era sábado
ao
domingo nos outros dias que eram depois
Ao
domingo escreve-se ao outro do outro lado
ao
domingo tem-se na mão um como está
ao
domingo vai-se ao mercado sem se lá ir
ao
domingo sabe-se bem o que não há
Ao
domingo fica-se erguido como sentado
ao
domingo tem-se no olho um arabesco
ao
domingo as florestas nem dão por que ontem
ao
domingo era mais vento nos outros dias
Ao
domingo fica-se pronto para pensar
ao
domingo cala-se a tarde se inda é manhã
ao
domingo tudo se espera se se esqueceu
ao
domingo quando se abriam os sons da noite
Ao
domingo há um retrato que se procura
ao
domingo não se tem medo do canto escuro
ao
domingo come-se o fruto bebe-se o vinho
ao
domingo um livro entrega o seu segredo
Ao
domingo já se tem anos para o que foi
ao
domingo a voz antiga que nos chamava
ao
domingo come-se o pão olha-se o campo
ao
domingo vamos embora que já chegámos.
Para Floriano Martins, C. Ronald e
Renato Suttana
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