OS
MELHORES ROMANCES E NOVELAS DE 1900 À ACTUALIDADE
(Nicolau Saião)
O romance e a novela,
géneros eminentemente populares na medida em que a literatura o pode
ser, foram durante algum tempo encarados por diversos pensadores (e,
convenhamos, com certa razão) como prestes a esgotar o território
literário específico, reduzido que estaria o seu campo de manobras.
Especialistas houve que
defenderam mesmo a ideia de que romance e novela iriam pouco a pouco
entrar em ocultação por se ter tornado caduco o tipo de discurso que
os fundamentava, havendo quem emitisse a opinião de que o seu
desaparecimento seria apenas uma questão de tempo. Os referidos
géneros, segundo esses analistas, tinham sido ultrapassados por
outro tipo de relatos mais científicos e directos.
O único comentário que
me ocorre é que, no mínimo, esses analistas conheciam mal o mundo em
que viviam – esse mundo sempre sedento de narrativas.
Compreensivelmente,
todavia, foi nessa altura que surgiu algo que veio reformar ou
modificar a efabulação romanesca habitual: o chamado
novo-romance, aliás a breve trecho seguido por outras concepções e
formulações inovadoras.
É fácil verificar que o
romance e a novela – e não estamos a referir-nos a sedimentos
mefíticos como a narrativa cor-de-rosa, o obreirismo best-seller ou
a literatura light – se aguentaram bem, sendo até neste tempo que
vieram a lume alguns relatos explosivos e convincentes dos géneros
que certos operadores diziam pouco menos que moribundos.
Renovadas as fibras
naturalmente amolecidas da sua estrutura específica, romance e
novela permanecem como vigias abertas na escuna da arte viva
– tendo em atenção que maus e requentados narradores sempre houve e
sempre haverá. Mas a esses cidadãos, por vezes ornados dum sucesso
que lhes faz muito bom proveito, nada lhes devemos que valha a pena
guardar – tanto mais que o tempo, com a sensatez que se lhe conhece,
ajusta contas com eles e elas a cada década que passa.
A lista que segue é
composta pelas obras que a meu ver, nos dois géneros, gozam da
absoluta perfeição e expressa-se em quarenta títulos divididos
equitativamente, de 1900 à presente data.
Por último, creio que se
infere que tenho da escrita, mormente quando se chama literatura,
uma ideia que é esta: ela suscita emoções como um deserto ou um mar
e é tão estimulante como uma montanha ou um bosque sombrio.
Assim sendo, acreditando
que neste mundo frequentemente invertebrado há que ter a galhardia
de afirmar, digo que a minha lista a proponho tendo
obviamente todo o respeito por outras opiniões muito diferentes –
que me atrevo, com fraternal desportivismo, a suscitar com a
excitação e a curiosidade que decerto se percebem.
Vinte romances
O homem sem
qualidades – Robert Musil
Narciso e Goldmundo
– Hermann Hesse
As caves do Vaticano
– André Gide
O desertor
– Lajos Zilahy
Margarita e o mestre
– Mikhail Bulgakov
O falecido Matias
Pascal – Luigi Pirandelo
Semana santa
– Louis Aragon
Terna é a noite
– F.Scott Fitzgerald
Em busca do tempo
perdido – Marcel Proust
A obra ao negro
– Marguerite Yourcenar
A montanha mágica
– Thomas Mann
A ponte sobre o Drina
– Ivo Andric
Quarteto de
Alexandria – Lawrence Durrel
O parque das corças
– Norman Mailer
A consciência de Zeno
– Ítalo Svevo
Debaixo do vulcão
– Malcolm Lowry
Adoração
– Jacques Borel
O hussardo sobre o
telhado – Jean Giono
Os jovens leões
– Irwin Shaw
Uma agulha no
palheiro – J.D.Salinger
Vinte novelas
A viola
– Michel del Castillo
O caso de Charles
Dexter Ward – H.P.Lovecraft
O ouro
– Blaise Cendrars
Os mágicos
– J.B.Priestley
Voltar atrás para
quê? – Irene Lisboa
A costa das Syrtes
– Julien Gracq
A fábrica de absoluto
– Karel Kapek
Com o diabo no corpo
– Raymond Radiguet
A margem
– André Pieyre de Mandiargues
Sobre as falésias de
mármore – Ernst Junger
A queda
– Albert Camus
O velho e o mar
– Ernest Hemingway
O incendiário
– Egon Hostovski
Cosmos
– Witold Gombrovicz
O pássaro pintado
– Jerzy Kosinski
O homem da montanha –
Dino Buzzatti
Versão original
– Bill S. Ballinger
O cavalo de Herbeleau
– Jean Husson
O perfume
– Patrick Susskind
O jardineiro do rei
– Frédéric Richaud
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