Home Poesia Prosa Traduções Colaborações Arquivo Contatos

Bem-vindo à homepage de Renato Suttana.

Max Ernst, O festim dos deuses

 

Sobre a Literatura Portuguesa Contemporânea

 

(Nicolau Saião)

 

Quando sou convidado para vir conversar em lugares como este, durante alguns dias tento articular uma introdução apropriada, defrontando-me então com um acervo de inícios possíveis.

 

Provavelmente passa-se o mesmo com qualquer outra pessoa nas mesmas circunstâncias. Mas no meu caso, confesso, fico ligeiramente mergulhado numa certa indecisão, que a meu ver parte do facto de que, à medida que os anos passam, me parece saber cada vez menos, ter cada vez mais interrogações perante a questão da escrita e ante o que ela pode significar para os meus semelhantes em geral e para mim mesmo em particular.

 

Creio que tal se deve à circunstância de eu não ser, segundo me parece, um pensador mas apenas um indivíduo que foi através dos anos descobrindo uma certa pequena música na literatura própria e alheia e alguns segredos presumíveis nas palavras e no reflexo que elas por vezes são.

 

Mas antes de passarmos ao assunto nuclear que aqui nos trouxe – uma incursão (ainda que breve) e um olhar (ainda que de relance) sobre a literatura portuguesa contemporânea – conviria talvez efectuarmos uma ligeira reflexão sobre a questão da escrita. E escrita praticada nestes tempos peculiares em que a Europa das pátrias tenta novas soluções comunitárias e o mundo se vê percorrido por ritmos sócio-económicos muito particulares.

 

Ao escrevermos, e naturalmente aponto para o meu caso pessoal, talvez não fosse asneira meditarmos no facto de que, de acordo com alguns sagazes especialistas, logo contestados por outros tão sagazes como eles, o território da escrita é o território da indefinição e da suspeita, da maior luz e da mais profunda sombra, isto se quisermos recorrer a símbolos. Pela minha parte tenho concluído que a existência projectada num determinado espaço de escrita configura sempre a observação, por vezes a instauração, dum espaço caótico, seguido nos melhores casos da sua reconversão. Ou seja, segundo o raciocínio que a lógica dos sinais e dos símbolos comporta, um acto que provém do jogo efectuado em circunstâncias mortais no seu plano próprio, no plano da vida enredada nas palavras a que o “Zohar” alude: “Todas as palavras podem ter cinco sentidos e algumas têm mesmo muito mais”. Porque, com efeito, o caos manifesta-se a cada passo, vivemos num Universo regido pelo “princípio de incerteza” de Heisenberg, o que pressupõe, por extensão e antítese, que a acção do sujeito, enquanto “anima mundi”, é o verdadeiro princípio gerador da ordem e da realidade. E aqui está porque é que a ordem das instituições e dos poderes é tão incapaz de estabelecer uma relação harmoniosa entre o ser e o meio societário. Máquina esvaziada de sentido, palavra perdida num oceano de dura penumbra e de aparências fragmentadas, ela não é mais que uma ilusão arteiramente acatitada através dos séculos, ainda que as consequências produzidas tenham sido sempre funestas, sempre duvidosas. A palavra que contém em si o verdadeiro sopro vital é bem outra: a que se consubstancia na figuração e no posterior entendimento do secreto sentido do Mundo, ou seja, aquele que é o cerne da própria matéria, como um sal unindo enxofre e mercúrio.

 

Dito de outra maneira: a palavra poética, seja ela em verso ou em prosa, que é simultaneamente significante e significado.

 

Segundo parece há na operação alquímica um momento em que o operador, depois de efectuado um “tour de main” apropriado, fica dependente de um lampejo em que a sua imaginação, mais que o seu conhecimento, lhe indica o que fazer. O mesmo se passa a meu ver na poesia: há, nos melhores casos e nas melhores alturas, um encadeamento feito de sabedoria em que, como referia Chesterton, somos levados ao país das fadas. O grande problema, o penoso problema, é que vivemos numa sociedade de afrontamentos que, apesar da democracia mais ou menos envolvente, é um meio propício ao desenvolvimento do efémero contínuo, mais do que o “presente contínuo” a que um conhecido filósofo contemporâneo fez referência numa obra sua.

 

E, uma vez que vivemos nessa tal sociedade, talvez faça sentido recordar que, desde Georges Simmel, que através dos seus estudos chamou a atenção para o que depois tomaria o nome de “socialização da morte”, se tem conhecimento de que, e cito “o espaço social mantém e encerra os ossos com o excremento dos vivos, acumula os locais vividos de geração em geração, suscita uma unidade atemporal que envolve o Homem na trama já constituída da morfologia e da paisagem. É uma unidade, sem dúvida, inteiramente psíquica, pois os acontecimentos podem levar um grupo a certas deslocações e os nómadas não sentem a necessidade dessa estabilidade campal, mas esta frágil unidade é como aqueloutra da memória colectiva de que falará Halbwachs, mais ligada ao meio que à duração. E, penso eu, não devemos perder de vista o facto de que a sociedade actual se caracteriza, entre outras coisas, por possibilitar que se camufle a violência interior, que é a mais perigosa e arrasadora, sob artefactos mentais de violência exterior dados como naturais, inevitáveis ou até como exigências de maiorias claramente controladas por uma certa ideia, desvirtuada, das necessidades de Estado. Talvez faça sentido, ainda, considerarmos que nos encontramos em reciprocidade de acção, quer sejamos mais permanentes ou mais passageiros – passe o simbolismo destes termos – e que as estruturas deste fim de século dependem muitíssimo de abstracções que já pouco têm a ver com as realidades individuais ou grupais existentes. Daí o desacordo frequente entre personalidade e colectividade e que tem a ver com o “apodrecimento das sociedades” detectado, entre outros, por Georges Pérec e Paul Virilio mas também, noutro continente de preocupações, pelo sagaz e recentemente desaparecido Jean Guitton.

 

A escrita e a literatura – e naturalmente na portuguesa contemporânea isso também acontece – dão sinal desse tempo e dessas circunstâncias e, na minha opinião, não só pelo que expressamente dizem mas também pelo que não dizem (ou não lhes é consentido que digam mediante os mais diversos entraves – que podem passar pelo simples facto de se dificultar a publicação aos autores incómodos).

 

Aqui, tenham a bondade de me consentir que transcreva umas palavras de Thomas Mann, que a dada altura dum ensaio da sua lavra nos diz: “O artista e a sociedade. Pergunto-me se chega a compreender-se com clareza quão complexo é o problema que enfrento.(…) De facto, muito bem se sabe que o artista não é em si mesmo um ente moral mas um ente estético, que o que o inspira e move não é a virtude mas o jogo, inclinado espontaneamente a jogar, ainda que mais não seja que dialecticamente, com os problemas e as antinomias da moral”. Todavia, acrescenta o Autor logo a seguir, “o artista melhora o mundo de maneira distinta à que é preconizada pela moral, e precisamente incorporando a sua vida pessoal – e de maneira representativa a vida em geral – à palavra, à imagem, ao pensamento, dando-lhe um sentido e uma forma e tornando transparente o que Goethe chamava ‘a vida da vida’: o espírito. Em nenhum caso poderei contradizer o artista quando afirma que o fim da arte é a ‘vivificação’ em todos os sentidos e não outra coisa (…)”. E mais adiante, e a finalizar esta citação, refere: “A verdade é que o artista, nas suas realizações e nas suas formas individuais começa sempre como algo de novo e, impregnado de ingenuidade, sem se conhecer, ou melhor, sem se reconhecer, vai adquirindo vida de maneira espontânea, sempre de maneira totalmente nova e absolutamente única. Cada caso que nele se manifesta é um caso extraordinário, determinado pessoalmente, de modo particular”.

 

Em Portugal estamos a atravessar, uma vez mais, dias em que o novo-riquismo e o ambiente filisteu da mais baixa extracção se erigiram em valores sensíveis e que certos sectores buscam apresentar como naturais e irrepreensíveis. Fará talvez sentido, então, sublinhar uma vez mais que o artista não desfigurado e vertical e alheio às mundanidades continua a ser um pólo de consciencialização, embora isso seja extremamente entravado pelo jogo intrincadamente societário de muitos sectores que, no país, procuram imitar em caricatura o que lá fora se faz com mais experiência, mais discernimento e até com certa lealdade, embora esta seja uma lealdade nefanda, uma vez que tenta fazer passar como exemplares, conseguindo-o frequentemente, ritos de massificação, propondo com certa argúcia os valores do precário, do aparente e do vazio pedante como questões fundamentais.

 

É isso que explica, a meu ver, um epifenómeno: o surgimento da chamada literatura light, género que aliás mostra o seu parentesco com as telenovelas e que encena, de modo ligeiro e aproximativo, as aventuras e desventuras de uma certa pequena e média burguesia urbana ou urbanizada. Ou o surgimento, como autores de ficção, de indivíduos ligados à actividade pública – como políticos e repórteres, por exemplo – e que o marketing logo acarinha devido à sua relativa celebridade e que passam como fogachos num céu de Verão.

 

Mas, indo agora ao ponto principal, de que falamos quando falamos de literatura portuguesa contemporânea?

 

Num enfoque sobre a literatura portuguesa devemos, a meu ver, estabelecer um critério temporal, não esquecendo contudo que há autores mais antigos que, no ano de 2004 em que estamos, nos aparecem como mais actuais do que outros que neste momento dão a lume os seus escritos. É o caso, por exemplo, de Graça Pina de Morais com a novela “A origem” ou de Agostinho da Silva com “Herta, Teresinha e Joan”, muito mais interessantes e resistindo melhor ao tempo que outras vozes posteriores, que mau-grado a sua persistência vão enrouquecendo assim que é passada meia-dúzia de anos.

 

Quer tenhamos a opinião de que a literatura contemporânea começou com o movimento “Presença” (José Régio, Branquinho da Fonseca, João Gaspar Simões, Miguel Torga, Francisco Bugalho…) – uma vez que as vozes do chamado Futurismo, como hoje se percebe, afinal ainda estavam presas a cadências que vinham marcadamente de trás e contra esse passado é que se definiam – ou consideremos que a maior contemporaneidade teve início quando esse movimento findou formalmente, não podemos afastar o facto de que na Literatura Portuguesa se exercem dois ritmos fundamentais e que são, no fundo, comuns ao que se passa na Europa: um que parte dos exercícios no quotidiano e que busca efectivar um determinado realismo e outro que, recusando um realismo que considera estreito, no fundo dá uma fotografia mais adequada do tempo em que se vai construindo.

 

Por estranho que pareça, em Portugal ainda por vezes persiste a velha querela do neo-realismo (que foi fundamentalmente uma fabricação de sector político enquanto movimento organizado) ou de um certo realismo sedimentado, contra as diversas surrealidades que entretanto foram acontecendo. Claro que é mais uma escaramuça de velhas comadres, uma vez que os autores mais desembaraçados vão efectuando a sua obra sem se aterem a esses considerandos.

 

E os autores mais significativos dum tempo que já lá vai indo – como dum lado, por exemplo, Carlos de Oliveira, Manuel da Fonseca, Antunes da Silva (na sua poesia isso é patente), Ferreira de Castro, Mário Dionísio, José Cardoso Pires e José Rodrigues Miguéis, este último claramente perpassado pelo contacto com o estrangeiro onde viveu durante largos anos; ou, do outro lado, Manuel de Lima, Mário-Henrique Leiria, Herberto Hélder ou Alexandre O´Neill – têm no que escreveram o sinal evidente da ultrapassagem dos cânones, o que lhes permitiu não ficarem enredados nos timbres das respectivas “escolas” de que partiram ou que os influenciaram.

 

Os nomes que referi pertencem formalmente ao meio-século e aos anos sessenta, com prolongamentos residuais palpáveis até aos nossos dias. Conviria aqui assinalar também os nomes de Cristóvam Pavia, José Blanc de Portugal ou, mais tardiamente, José Bento como autores que souberam ou puderam levar para diante a menção contida no que antes, posto que com outro propósito, Mário Cesariny, Pedro Oom ou António Maria Lisboa haviam cometido; e, do outro lado funcionalmente realista (com todo o eventual equívoco que esta palavra pode conter), os casos de Egito Gonçalves, Vítor Matos e Sá, Fernando Namora, José Gomes Ferreira ou António Borges Coelho.

 

Há nomes, entretanto, incontornáveis –desses tempos até aos nossos dias – pese embora à por vezes precária arrumação das estantes nacionais da especialidade: Fernando Pessoa, que foi vários em seu universo singular; Aquilino Ribeiro, beirão retinto e em cujas novelas e tomos memorialistas se distingue o cheiro do terrunho que também se sente no saudosismo amplo de Pascoaes; Irene Lisboa, poetisa e novelista cuja alta qualidade os melhores souberam reconhecer; David Mourão-Ferreira, poeta lírico, ensaísta e agudo novelista com o seu “Gaivotas em Terra”; António Luís Moita, com uma poesia onde a nostalgia é transportada por uma escrita rigorosa e exigente (“Cidade sem tempo”); Vitorino Nemésio, poeta e ensaísta, com um romance superlativo (“Mau tempo no canal”); o presencista Branquinho da Fonseca, contista de nível europeu; Mário Cesariny, também pintor, com versos onde a magia se congrega com um real quotidiano transfigurado; Luiz Pacheco e os seus “Exercícios de estilo” que transbordam para contos de recorte abjeccionista; a poesia ática de Sophia de Mello Breyner; Maria Gabriela Llansol com os seus textos nos quais se cruzam diversos registos duma escrita convulsiva e simultaneamente envolvente; Fernando Echevarria, que antecipou nos seus poemas muitos dos melhores ritmos de hoje; Álvaro Guerra e a sua trilogia dos Café que corrobora anteriores romances; António Franco Alexandre e Fiama Hasse Paes Brandão com uma desconstrução de ritmos poéticos a que ninguém ficará indiferente; Manuel António Pina que, sendo também cronista, faz reflectir nos seus textos um universo inquietante e surpreendente a que uma súbita inflexão dá a sua verdadeira face de realidade; Maria Judite de Carvalho com um perturbante e belíssimo “Tanta gente, Mariana” onde a questão do destino é analisada ponto a ponto de forma desencantada; o teatro “erótico e religioso”de Bernardo Santareno, bem como o mais quotidiano de Luís de Sttau Monteiro; um intensamente vernáculo Tomás de Figueiredo; Vergílio Ferreira, com romances nos quais se espelha a inquietação metafísica que o preocupava; Ana Hatherly, também desenhadora, que sabe brincar a sério com as palavras; João de Melo e Américo Guerreiro de Sousa, em cujos romances perpassa uma clara angústia de viver; Inês Pedrosa com um significativo “A instrução dos amantes” onde se reflectem timbres comuns a muitos autores estrangeiros; Dinis Machado que como um meteoro atravessou o horizonte com o seu famoso “O que diz Molero” para a seguir ficar quase calado; Fernando Assis Pacheco com um “Trabalhos e paixões de Benito Prada” de espanholíssima intenção; o multifacetado Jorge de Sena com o seu “O físico prodigioso”; Casimiro de Brito, que também tem tido importante acção à frente do Pen Clube; António Ramos Rosa, que torrencialmente exprime a sua poesia seminal; um Alberto Pimenta irónico e, em boa verdade, sofrido com os “disparates do tempo”; José Miguel Fernandes Jorge e o seu peculiar discurso poético; Lídia Jorge, em cujo romance “A costa dos murmúrios” vibram ainda os ecos do Império; um novíssimo José Luís Peixoto com o comovente “Morreste-me” ou o sedutor “Nenhum olhar” que os sulcos do marketing ainda não conseguiram prejudicar relevantemente; Cruzeiro Seixas, um dos pintores surrealistas mais destacados cuja poesia de poder transfigurador foi ultimamente revelada; um João Luís Barreto Guimarães, um Amadeu Baptista e um Ruy Ventura, uma Eduarda Chiotte e uma Rosa Alice Branco, um Gonçalo M. Tavares, um Luís Quintais, um Daniel Faria e um José Tolentino Mendonça que entre outros vão conferindo à poesia portuguesa mais chegada as suas melhores honras e o seu melhor quilate.

 

Não falando nos livros com que Saramago se viu galardoado com o Nobel, ou os romances de recorte deliberadamente bem moderno de um Lobo Antunes, de uma Agustina Bessa-Luís que como uma sibila se tem ido revelando, ou de um Fernando Campos que busca na História os seus temas e protagonistas.

 

A vol d’oiseau citemos também algumas revistas actuais onde a actividade de poetas, contistas e ensaístas se tem exercido: a quase institucional “Colóquio-Letras” da Fundação Gulbenkian; a “Ler” do Círculo de Leitores e onde ganhou relevo o publicista Francisco José Viegas; a “Sol XXI” compósita e com um roteiro abrangente de nomes muito diversos em qualidade e estilo; a “Saudade” com números mais ou menos temáticos; a “Águasfurtadas” primeiramente dirigida pelo poeta Rui Lage e dada a lume por estudantes do Porto mas que vai para além das suas fronteiras naturais; a “Apeadeiro” que é também um órgão de autores/editores; a “Bumerangue” onde se destacou o nome de Fernando Guerreiro; a “Diversos” de poesia e tradução editada em Bruxelas por escritores emigrados (José Carlos Marques, Manuel Resende, Carlos Leite, Jorge Vilhena Mesquita…); a “Abril em Maio”, editada pela associação do mesmo nome (Eduarda Dionísio, Vítor Silva Tavares – também a alma de uma relevante editora à margem do sistema); a “365” de Pedro Alvim, a “Bíblia” de Tiago Gomes e a “Bicicleta” de Almeida e Sousa, com estilos gráficos assumidamente de ponta… Ou revistas de origem regional focando temas gerais mas repercutindo a região onde se editam, como “Callipole” (alentejana) ou “Saber” (Açores), esta muito virada para a diáspora que se centrou em terras americanas.

 

Nos últimos tempos apareceu algo que ainda é talvez cedo para ser estudado, mas que é já significativo: espaços interactivos denominados blogues e que na Net se expandem. Deram origem a uma escrita ágil, nervosa e caracoleante, com um sabor muito próprio e onde aparecem contos, pequenas crónicas, apontamentos mais ou menos rápidos ou esfuziantes de humor (muitas vezes negro) e que são uma reflexão em geral acerada sobre o quotidiano nacional, nos seus vectores artísticos, políticos, sociais e filosóficos. Citaria, a talho de foice, os nortenhos “Quartzo, Feldspato e Mica”, “Tempo Dual” e “Abrupto”ou os sulistas “Janela indiscreta” e “Húmus”. Mas os exemplos poderiam multiplicar-se, sendo de referir que diversos autores transformaram em livro os seus posts colocados nos respectivos órgãos em que se apresentam.

 

Não me referirei aqui à escrita que se transporta na chamada Banda Desenhada, que a meu ver teria de ter uma análise específica. Bem assim como a outros géneros – a ficção científica, o policial, o romance de mistério ou o fantástico) pouco praticados em Portugal devido a condições especiais decorrentes do enquadramento societário.

 

A literatura portuguesa contemporânea, no seu trilhar de caminhos no dia-a-dia, tem estado e está como muitas outras parcialmente sob a acção perniciosa de editores canhestros, aproveitadores ou espertalhões (ou apenas dependentes constrangidos dum mercado implacável) e, também, de capelinhas de ordem política e sectorial (companheiros de formatura ou de profissão civil, etc.). Parece que tal é inevitável seja em que país for. Mas não escamoteemos um dado bem lusitano, absolutamente de considerar: que a erosão a que o país esteve sujeito durante o consulado de Salazar e a que está sujeito agora, sob o consulado de uma democracia quantas vezes aproximativa, tem agravado o clima em que se vive literariamente e que é muito mais opressivo e condicionante que o que talvez exista em países mais abertos, mais livres ou onde a hipocrisia se exerce com menor êxito.

 

Ao agradecer-vos a atenção dispensada, fico naturalmente aberto às questões que entendam dirigir-me.

 

 

Palestra realizada em Zafra em 23 Novembro 2004

 

 

Retorna ao topo

Outros escritos de Nicolau Saião