SEMPRE
TE ESPERAREI NOS TEUS POEMAS
(Nuno
Rebocho)
a Eugénio de
Andrade
disseste
ar como o fruto do poema amadurece
os
barcos para a longa viagem. e disseste terra: a outra mão
afagou
o vento com o murmúrio da água
porque
as árvores acamaradavam
e
eu iniciava a amizade. o rio não fechou os olhos
nem
as sombras se cansaram do húmus da claridade
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ali estavamos eugénio com o arcaboiço
de
quem se atreve no regaço pronto
à
rebeldia da vida: o douro desafiava
e
os cachos cantavam o vinho do teu poema. assim foi
que
as nuvens se envergonharam dos silêncios
enquanto
recolhíamos os cálices do dia.
as
amizades (eugénio) são como as bocas
de
mamar o tempo mesmo que a cárie doa e os murros
levem
os dentes. sei que no caminho há despedidas: deixa lá.
sempre
te falarei nos teus poemas. que se cansem
os
barcos deixa lá: sempre te esperarei nos teus poemas.
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