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“O LUGAR, A IMAGEM”
Novo livro de Ruy Ventura editado em Espanha
O lugar, a imagem
– um novo livro de poemas de Ruy Ventura (Portalegre, 1973) – acaba
de ser publicado em Espanha pela Editora Regional da Extremadura.
Trata-se de uma edição bilingue, contando com uma tradução para o
castelhano de Antonio Sáez Delgado (Cáceres, 1970), poeta, ensaísta,
prestigiado tradutor e professor da Universidade de Évora. Esta obra
é um dos primeiros títulos da colecção “Letras Portuguesas”,
onde irão ser divulgadas algumas das vozes fundamentais da mais
recente literatura portuguesa (tanto na poesia quanto na narrativa e
no ensaio), como por exemplo António Cândido Franco ou José Gil.
Sobre a obra agora dada à estampa afirma o escritor
espanhol Julián Rodríguez:
“Uma citação de Bernardo Soares, heterónimo de Pessoa
e “autor”
do Livro do Desassossego, abre este livro: “O que vemos,
não é o que vemos, senão o que somos”. Em volta destas palavras
se articula o poemário de
Ruy
Ventura, um dos nomes mais interessantes da nova poesia portuguesa.
A imagem, parece dizer-nos, pode ser também “interior”,
isto é, não construída com o olhar mas com as vivências, com os
lugares visitados, vividos, sempre com uma carga de passado, de
atemporalidade e, quase, de sacralidade. Uma fortaleza (a do
Portinho da Arrábida ou a de Aveyron...), uma igreja (a de
Portalegre), um castelo (o de Sesimbra, o das Carreiras, o de
Valencia de Alcántara...), uma torre (a das Jerónimas, em Trujillo)...
E não apenas lugares: também objectos, objectos “contemplados”
(uma escultura antiga, uma talha de madeira...). / As paisagens – os
lugares – são projectadas na escrita com um distanciamento e uma
dicção (sempre essa combinação: as formas populares e a vanguarda,
digamos, tradicional) que as fazem mais verdadeiras e duradouras: a
emoção sempre contida e as palavras sempre ditas em voz baixa. A
marca deixada por esta poesia tem que ver tanto com o dito quanto
com o não dito. Sirvam como exemplo alguns versos do poema “regresso”,
que nasceram, como assinala Ventura numa nota de rodapé, ao
contemplar uma escultura do lendário rei português Dom Sebastião, um
verdadeiro mito, mais sentimental do que heróico, no seu país:
“depositaste na pedra / o teu olhar sem sombra / para melhor
suportares / o peso desses ombros, / recuperando a cinza / que
ficou sobre o oceano.” (p. 30) E uma estela funerária romana
encontrada em Mérida provoca estes outros, saídos do poema “memória”:
“mal oiço o som do alaúde em tua casa. / não consigo ver a pomba
/ voando sobre a cinza, / no sepulcro da ruína e desta alma. /
exumei com os olhos / o mosaico que rodeava, talvez, esse coração –
/ mergulhado na água e na melodia. // séculos depois, encontro esse
rosto / tão cedo escondido. / desenhado no mármore. / como numa
fotografia. / esse sorriso escavando a penumbra da nave – // a
iluminação das lágrimas / no interior do vidro.”
(p. 28).
O lugar, a imagem é a quinta colectânea
editada por Ruy Ventura. Antes publicou, em poesia,
Arquitectura do Silêncio (Difel, Lisboa, 2000 – Prémio
Revelação – Poesia, da Associação Portuguesa de Escritores),
sete capítulos do mundo (Black Sun Editores, Lisboa, 2003),
Assim se deixa uma casa (Alma Azul, Coimbra, 2003 – em
castelhano e português) e Um pouco mais sobre a cidade
(Cuadernos Porticus, Villanueva de la Serena, 2004 – em castelhano e
português). Com Joaquim Cardoso Dias, José Mário Silva e Pedro
Sena-Lino participou no livro colectivo Malcata 7 Geografias
(Alma Azul, Coimbra, 2003). Colaborador de diversas revistas
portuguesas, brasileiras, espanholas e norte-americanas, parte da
sua obra está traduzida em francês, inglês e alemão. Ele próprio é
autor de traduções diversas, nomeadamente de numerosos poetas
espanhóis contemporâneos.
Site da Editora Regional Extremadura
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