“Mariela” e outros
poemas
(Nelson Magalhães Filho)
MARIELA
Mariela é a angústia
que nutre os oráculos
de meus acasos.
Brilha no ventanejado
entre poças
de estrelas.
Ambrosia sombria
dos oceanos
Mariela é a angústia
de um tempo morto
de parir harpas.
Mariela é o sangue
que não estanca o néctar
de mim.
A FLAUTA
Depois que Galeno d'Avelírio
morreu
o pé de abacate que tinha
conformação de extraordinário cessou.
O sapoti, o relógio antigo
desmoronou - maquinismo inocente -
das ressonâncias espirituais.
As flores e o forro
a casa nº522 na Praça da Matriz.
O pé de chuchu aniquilou-se
entre uma lâmina
de acaso
a cerejeira ou o
Teorema
de Pasolini,
a erva de passarinho a possuiu,
carnalmente.
Hoje,a poesia do visionário
persegue libélulas
que pousam em minhas armadilhas
coando a transparência
das manhãs de minha cidade.
Vou andar de bicicleta pela tarde
embriagado pelo natal com uma grinalda
de folhas penduradas numa orelha.
A estridência da música
de Nick Cave me consome
em saudades devastadoras.
Suscitar sonhos de nuvens luminosas-fragores,
pássaro-noturno transcender
drásticas marés
de águas indomáveis,
fumar margaridas-incógnitas
que se retraem acaso sobrevenha a audácia
de atirar casca de dor na chuva.
Febril,
vislumbrar um canto escuro para se ninar
um pássaro precioso-deslumbramento
do torpor que deixa um rastro impenetrável em teus olhos,
mistérios compassivos prendam
pelas caminhadas
desastradas onde os bichos desaguam-crus-lamúrias
desfrutam sua esperança de nadar
entre facas e espelhos.
mais um bálsamo
e coloquei um radiohead com
fake plastic trees
sem tédio ou vontade de ir a paris
só as vacas beijam minhas feridas
neste lado indecente da cidade
só o amor é mais amargo que seus olhos.
nada de me dizer: você precisa fustigar
impiedosamente estas ruas, já estou
refratário para os estonteamentos
e a privada imunda porque a mais linda
mulher da cidade cortou a garganta.
náuseas no olhar
baby possuída por um cavalo triste
condenada a um triângulo
desregrado de amor
acuada entre dois enganos.
baby, vou te dar um perfume
feito do azeite de pétalas bisonhas
e o disco da patti com
land of thousand dances.
Os tigres chegaram.
Sonhos cobrem tua vasta cabeleira
ornada de cambraias
dilacero pétalas nos tigres
lágrimas as mais tristes sobre a face.
De pranto alucinado pelo vento
arrufo-me de encontro ao morno
alagamento da vertigem.
Urgiam cachorros selvagens
pelos eucaliptos
avançavam as águas ardentes
em minha direção.
Contra as ondas escuras singraremos,
os tigres chegaram
os cacos das unhas descendo pelo peito.
Blog de Nelson Magalhães
Filho:
http://anjobaldio.blogspot.com/
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