|
MUSA ELETRÔNICA
(Renato Suttana e Wladimir Saldanha)
Hi,
C
i A L / S
X & N A X
V
/ A G R A
V
A L / U M
P R O Z & C
L E V / T R A
A M B / E N
M E R / D / A
S O M &
F U R i A
(Renato
Suttana,
a partir de uma mensagem de spam)
NOSSO TEMPO (DE E-MAILS)
Este é um tempo
sem meios,
tempo de
e-mails:
"Emagreça
dormindo..."
"Tenha uma renda
extra..."
"Assine esse
manifesto..."
Poesia? Só
rindo...
E-mail, que nos
requesta,
e mesmo: o
processador de texto (que
até ele,
pergunta
no começo do
poema:
"deseja escrever
uma carta?")
(Wladimir Saldanha)
O PROCESSADOR
O processador
não quer processar
o poema –
prefere processar
outro tema:
a carta o memorando
o relatório.
(Seria muito se perguntasse:
“deseja escrever um poema”?)
No oratório
do poeta
não reza:
tem opinião própria
musa própria
(dicionário próprio
embutido
nas entrelinhas).
Sublinha
com um traço ziguezagueante
a palavra desconhecida:
ergástulo
ergasiotiquerologia
(infortunística)
ergastenia.
(E pode corrigi-la
num instante.)
(Renato Suttana)
RIMÁRIO DO MONITOR
O poema vai para
a Internet
e lá se expõe
como uma vedete
O poema no monitor
já não rima
dor e flor
sabor e odor
mas quer ser
imagem instantânea
de uma coisa
subitânea (subcutânea?)
Rima
com esgrima
rima
com imprima (rima?)
O poema, meus amigos
disse a voz
de uma época
menos veloz
não fede
nem cheira:
é entulho só –
vai para a lixeira.
(Renato Suttana)
CLIQUE NA IMAGEM ABAIXO
Marília bela,
Ismália doida,
Nega Fulô,
Moema, Mira-Celi,
Dona Inês - quem
de vocês
me manda um
cartão virtual?
Serão, Bandeira,
as três
moças do teu
sabonete?
Nos tempos da
Internet,
na minha caixa
postal
a musa
desconhecida
pede clicar na
imagem
abaixo, para que
a veja...
E me apaixone:
perca os arquivos,
entregue-lhe a
senha do banco,
e ao fim nem
saiba seu nome
(Wladimir Saldanha)
MUSA MUDA
Clico
na Musa
e fico
na expectativa
do que vai baixar
no monitor:
uma cobra?
um peixe?
uma flor?
um disco voador?
Clico
e fico
na expectativa.
(Coisa viva –
o monitor?)
Porém às vezes
a Musa zangada
(indisponível,
muda –
obtusa).
Página não encontrada.
(Renato Suttana)
NOVA PROFISSÃO DE FÉ
fragmento para
Siloh Nouvel Jolie-Pitt, no seu advento
"Washington, 3
jun (EFE).- Shiloh Nouvel Jolie-Pitt, a filha recém-nascida do casal
de atores Angelina Jolie e Brad Pitt, já tem seu primeiro presente,
uma chupeta de ouro e diamantes avaliada em US$ 17.000..."
(...)
Torce,
aprimora, alteia, lima
A chupeta; e,
enfim,
Doa pro bebê
da Angelina
Jolie.
Quero que o
bebê da Angelina
Chupando a
jeito
Poupe das
estrias a rotina
Daquele peito
E que o lavor
do bico imite
Por tão
subtil
O próprio
Brad Pitt
em seu psiu.
E horas sem
conto, passo, mudo,
O olhar
atento,
Na internet,
longe de tudo
O pensamento.
Porque o chupar - tanta perícia,
Tanta requer,
Que ofício
tal... nem há notícia
De outro
qualquer.
(...)
(Wladimir Saldanha)
NÃO DÔO NÃO!
Doa pro bebê
da Jolie?
E o diamante
que se incrustou
ali?
Doa pro bebê
do Pitt?
Fácil assim,
como quem
se demite?
(Só porque ele
foi Aquiles
e eu
nem cheguei
a Eumeu?
Só porque ele
foi ao Tibete
e eu
perdi meu tempo
na Internet?)
Não dôo não!
Boto-lhe na boca
um apito,
uma harmônica,
um pirulito,
uma côdea,
uma bolacha,
uma dentadura,
uma chupeta
de borracha,
uma escova de dentes,
um coça-gengivas,
um chocolate
(de menor
quilate -
coisa que
a babá
por certo
não
aprovará),
e então
me escapulo.
Porque, afinal,
é como diz
a canção:
dinheiro na mão
(ou chupeta
também
que vale mais
que um vintém)
é vendaval!
(Renato Suttana)
SPAM
(Meditativo)
Ponho-me a procurar
onde não há
nada
para achar:
navego
sobre o
desassossego.
(Às vezes
um osso,
às vezes
nem isso.)
Navego
em direção às Índias,
em direção
a alguma América
que não conheço.
(Circunavego –
em meu
desassossego.)
Procuro
um arco, um centro,
um astro –
um norte eletrônico:
múltiplo.
That
which brings
the highest
happiness.
(Renato Suttana)
|