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Henri Matisse

 

"ENGANO E VAIDADE" E OUTROS SONETOS

 

(Maria Eleonora Cajahyba)

 

 

ENGANO E VAIDADE

 

A Treu

 

Ambos erramos. Eu, quando o deixei,

Mas sentindo a constância da saudade.

Tu, quando fiquei só e, por vaidade,

Não me perdoaste, e, livre, retomei.

 

Tentei debalde; nunca mais amei...

Tomei-me pária, errante, na orfandade,

Buscando uma suposta afinidade.

Ó leda fantasia que sonhei!...

 

Vivendo assim, cansados de sofrer:

Distantes – penso em ti e tu, em mim.

Como é triste o refúgio sem nos ver...

 

Este é o látego amargo de perder

O verdadeiro amor, esse festim

De dois, unidos para florescer.

 

 

 

 

O GEMIDO DO VENTO

 

Por que, ó vento, tu gemes, soluçando

Um canto agonizante e a melodia

Que embala os numes na noite tão fria,

E beijas os coqueiros, sussurrando?

 

É madrugada. E voltas, sibilando

Este sinistro grito que partia

Para o mar, e a onda indômita cuspia

Densas espumas alvas, prateando...

 

Pára. O meu leito espera-me e me aquece.

O sono ameno apaga tudo e esquece

Todas vicissitudes do amargor.

 

E surge a nova aurora do amanhã,

Trazendo a folha nova bem louçã.

É o despertar da vida sem a dor...

 

 

 

 

TUDO E NADA

 

Já cantei Tudo o que senti e vislumbrei:

Mulher, homem, céu, terra, fogo e o vasto mar;

E os sentimentos – dor, saudade do luar,

O amor, a nostalgia e o mundo que sonhei.

 

A esperança, a bondade e as rosas que plantei

No meu jardim querido, onde fico a cismar...

Penso que esqueço e sei que estou a recordar...

E o pensamento vai e volta, se o busquei.

 

A vida é o sonho do nosso bem ou do mal;

Essa felicidade eterna é uma ilusão

Que acalenta o inocente em pleno vendaval.

 

Maior dádiva é amar a vida doce e sã.

O Tudo e o Nada em nossa mente estão!

O Hoje é o Ontem, lembrado e o Porvir do amanhã.

 

 

 

 

A CASA DA COLINA

 

Reflete o Rio Preto a casa da colina,

Branquinha com varanda em redor e o jardim

Com rosa perfumada e orquídeas e jasmim,

Lembrando a minha infância airosa de menina.

 

A baixo, corre a negra água, tal serpentina,

Fecundando o sopé do morro até o fim...

Do alto, avista-se o céu, alua e tudo assim;

E à tarde o adeus do sol à estrela vespertina.

 

Do meu jardim de inverno, olho sempre a paisagem

Que me fez recordar os meus amados Pais

Que a contemplavam como a esplêndida miragem.

 

Eles partiram... Mas ela nada mudou...

Ronda-a freqüente o triste eco dos nossos ais:

Esta saudade eterna – e o vento não levou...

 

 

 

 

A MATURIDADE

 

É a fase da razão e do senso maduro.

Planeja-se o amanhã e o bem que delibera

Com tal filosofia... eis o fIm da quimera,

E da esperança que só vislumbra o futuro.

 

O sentido se aguça e o passo é mais seguro;

Surge o equilíbrio e a paz suave que acelera

Esta maturidade amena que se espera...

Sobrevém à paixão, frio amor de Epicuro.

 

Mas a Mulher aos trinta, esplende a formosura

E a madureza bela, elegante e outonal,

Exibindo ainda a flor da graça e da candura.

 

Hosana à plenitude hígida e exuberante,

Que se mantém alegre, ardente e jovial!

É a dádiva divina -o prêmio triunfante.

 

 

 

 

AMOR

 

O amor é uma espécie de amizade superlativa, e isto só se pode sentir em relação a uma única pessoa. (Aristóteles)

 

Nasce ao primeiro olhar sem pressentir;

Dorme sem perceber no pensamento;

É uma doce euforia e atroz tormento;

É o Céu e o Inferno juntos a iludir.

 

É raro o Amor, capaz de perseguir

Até o fIm da jornada, este acalento

De dois, que esquecem grande sofrimento,

Rindo e chorando, e a lágrima a cair...

 

Ó servil e Senhor de todo o Mundo!

Prende e solta os famintos corações,

Brinca com o sentimento, o mais profundo.

 

Um dia as preces vão ao Redentor

Da vida, ouvindo a súplica e orações:

– Não matarás a quem te matará de dor!

 

 

 

 

O OUTONO

 

O "intermezzo" do cálido à frieza;

Lembra-me o ocaso, e ao ver folhas caídas

E amareladas, chora a natureza...

É o contraste - as alturas e as descidas.

 

Toda estação revela uma beleza:

As noites outonais são bem garridas;

Degusta-se o bom vinho e a sua leveza

Junto ao "fondue", nas távolas floridas.

 

Dia cinzento e a madrugada fria,

Favorável no encontro aconchegante

Do corpo e da alma em terna sintonia...

 

Na rua, aborda-se o esperar de alguém.

É a solidão do ser itinerante,

Que deseja aquecer a alma, também.

 

 

(In Clamor do Mundo, Salvador – 2006)

 

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