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Nelson Magalhães Filho

 

[NÃO SE TECE A VIDA] E "O DESDITADO"

 

(Maria da Conceição Paranhos)

 

 

[NÃO SE TECE A VIDA]

 

Não se tece a vida

em teares mecânicos.

Nada inda foi dito.

 

Expatriado, choras

teu perdido anelo

de estar frente aos altares

de onde recende a luz

do alto, te transporta.

 

Quando levitas, ousas

sorrir e assim prossegues

— cintilas nesta noite

de sombra cerrada.

O divino transporta

teu viver encantado.

 

 

 

 

O DESDITADO

 

Je suis le Ténebreux, — le Veuf, — l`Inconsolée,

Le Prince d`Aquitaine à la Tour abolie :

Ma seule Étoile est morte — et mon luth constellée

Porte le Soleil noir de la Melancholie.

 

(El Desdichado. Gérard de Nerval, 1875)

 

 

A vida pulsa em cada tom, e ouço,

palpitando-te o peito a dor e o luto

no alaúde lilás. Soa o clarim.

Enquanto o verso, livre, te seqüestra,

 

viúvo obscuro tanges tua corda,

na casa deste verso, e a perícia é louca.

 

Arrastas berro bárbaro na boca,

se és poeta de todos que não falam.

 

Mas és o desditado, és o bastardo,

cavaleiro do tempo em espaço parco,

 

meio à voracidade da poesia

que não te deixa, a ti, o deserdado,

 

mesmo se os vendavais te varram a vida,

e o grito da tua chaga purgue e lave

 

a tua voz extrema de cantor,

se lá chegares! É que jamais chegas,

 

jogo de júbilo face ao tormento.

Então teu corpo desce a rampa estreita.

 

 

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