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Pablo Picasso

 

CELEBRAÇÕES ZEFIRINIANAS (À MODA DO CATECISMO) – extratos

 

(Miguel Carneiro)

 

 

III

 

Vou buscando teus seios...

Tu

a loba anacreonte do meu inferno

amamentando esse teu filho

com o mel da celebração.

Vou sugando tuas mamas

em busca de leite

no rubro bico dessa paixão.

Vou te chupando assim, amada,

enquanto a tarde agoniza em completa solidão.

 

 

 

CANÇÃO TATUADA NO PEITO

 

Busco nas madrugadas teu corpo quente.

E me atraco ao teu porto

como náufrago da devassidão.

Perco-me entre as curvas sinuosas,

exploro teu curso de navegação.

Arde em meu peito

esse amor celebrado

como cânticos de Salomão.

 

 

 

LOBO DO MAR

 

Bota teu galeão no meu mar.

Singra as águas claras de meu ser.

Enfuna a tua vela com prazer.

sobre o meu oceano.

Esquece os enganos.

O amor é um barco amigo

sem piratas, sem comandantes.

Apenas navegando distante

nessa costa de mar.

Pega teus canhões e cala.

Desfralda a tua bandeira

na minha sala.

Aconchega-se para dormir.

Todo dia tem tempestades

mas apenas a saudade é que bate forte dentro de mim.

 

 

 

CACETE ARDENTE EM TARDE FRIA

 

A mãe no Cartório entre averbações.

O tempo agasalhado numa caixa de costura

e a bela menina da casa em frente

de seios salientes no corpete de algodão.

Minha mão trêmula naquela tarde

e o céu desabando de trovão.

 

 

 

LATIFÚNDIO PERVERTIDO

 

Eu também já tangi manada de éguas em cios

quando possuía meus currais,

desembestado cruzei uma por uma

pelos sertões a dentro

quando eu era senhor de mil marruás.

Daquelas éguas que cruzei pela vida a fora

hoje pastam em outros umbrais

tendo um cavaleiro como destino

e uma chibata dura feito um Satanás.

Eu também já fui senhor de terras

cuja extensão se perdia no meu olhar,

de uma hora para outra

por simples convicção

reneguei para sempre

o latifúndio amoral que herdei de meu pai

e fiquei como todo mundo

com apenas sete palmos de terra

e uma égua baia

que ainda tanjo no meu quintal.

 

 

Sobre o autor

Clique aqui para ler a versão integral das Celebrações zefirinianas (formato pdf, 187 kb)

 

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