O “ÚLTIMO CANTO” DE
ELPIDIO BASTOS
(Miguel Carneiro)
Se, se indaga a essa geração nova que
faz poesia na Bahia, sobretudo essa turma que publicou da década de
80 para cá, se conhecem os versos ou algum livro dos poetas baianos
Elpidio Bastos, Pinheiro Viegas, Alves Ribeiro, Antônio Brandão
Donati, Clodoaldo Milton, Egberto de Campos Ribeiro, Dagmar Pinto,
João Moniz, Áureo Contreiras, Francisco de Matos, Flávio de Paula,
Elmano Amorim, Fernando Diniz Gonçalves, Pereira Reis Júnior, Carlos
de Viveiros, Clóvis de Lima, Leopoldo Braga, Raimundo Brito,
Adalicio Nogueira ou Enoch Santiago Filho, decerto dirão que nunca
ouviram falar desses vates.
A constatação que se tem é de pesar e
tristeza por esse fato. As décadas passam, sucumbem, e os nossos
poetas baianos embarcam no limbo do completo esquecimento, feito
campa fria no cemitério do Campo Santo. Decerto será que daqui a
cinqüenta anos essa mesma turma que faz poesia hoje e não conhece o
passado, aqueles que a antecederam, cairá também no rol dos
esquecidos, virando livro velho entre traças nos sebos da velha
Bahia. O tempo implacável, que a tudo consome, fará com que essas
vozes contemporâneas silenciem. É o roldão do destino.
Foi através de seu neto, Arthur Bastos,
que me chegou às mãos o livro póstumo de Elpidio Bastos, O Último
Canto, publicação custeada pela família do poeta, tendo a
Gráfica Rotergraf, na Rua do Sodré, como selo editorial.
O Elpidio Bastos nasceu em Salvador a
28/12/1898, sendo seus pais o construtor Supercinio Alves Bastos e
Rosalina Simpliana Bastos. Adotou o estilo parnasiano, militou na
imprensa local, participou da extinta Academia Manoel Vitorino e
da Hora Literária dos Novos. Integrou-se à escola parnasiana
Sonelista, trabalhou o verso com indisfarçável preocupação da forma.
Publicou ainda, Inquietação, composto somente de
sonetos, em 1952. Colaborou com a coletânea elaborada por Flavio
de Paula “Apóstolo do Sonho”.
Elpidio Bastos fez parte do grupo da
Baixinha, juntamente com o centenário Braulio de Abreu. Elpidio foi
um homem que idealizou um mundo mais justo e melhor para os seres
humanos, sem ser político atuante. O Último Canto é o seu
livro póstumo. Elpidio Jose Bastos é neto do poeta, compositor
cantor, com dois CD`s lançados, tendo site na internet no endereço:
www.elpidiobastos.com.br.
Há no livro citado um belo soneto onde o
poeta desvela a sua origem e reflete numa linguagem eivada de
denúncia social os périplos da festa do Advento do Senhor na velha
província da Bahia:
Meu natal
Vinte e oito de dezembro. Meio-dia.
Sol a pino. Verão. Eis que se cobre
De amor materno o leito em que eu
nascia,
Sob os presságios da ambição mais
nobre.
No meu caminho, a benção da alegria
Minha mãe pede aos céus que se
desdobre;
Mas da sorte, ao invés, a tirania,
Tornou-me um poeta proletário e
pobre!
Vivo sob a atração de dois planetas:
De Capricórnio a Vênus, descortino
No astral, meu signo, em múltiplas
facetas.
Mas, ao meu rubro ideal nunca
abandono.
E, transpondo as barreiras do
destino,
Venho da primavera e atinjo o outono.
Reproduzo, em sua memória, para que as
gerações futuras tomem conhecimento que nem só medalhão laureado é
ou foi poeta nessa terra de Oliveira Falcon, Carlos Sampaio, Dorival
Limoeiro, Agenor Campos, para falar somente dos mortos. Elpidio
Bastos, poeta de linguagem clássica, pertencente ao grupo da
Baixinha, que tinha Samuel de Brito Filho, Guarda Civil 85, Zaluar
Carvalho, Honorato Gomes, Otto Bitencourt, e agora o único
sobrevivente, Bráulio Abreu, com 103 anos.
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