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Nuno de Matos Duarte

 

MUITA COISA

 

(Marcos Brás)

 

Muita coisa para fazer...

Muitas ocupações...

Mas estou aqui, em silêncio,

encalhado na imobilidade como se isso fosse uma preparação...

 

Mas isso não é uma preparação...

É preciso que esteja claro

que isso (seja lá o que for) não é nenhuma preparação...

 

Muitas coisas para começar

(e a simples idéia de começar

já me faz tropeçar num emaranhado de perplexidade)...

 

Muitas coisas

contanto que não sejam feitas –

contanto que nada se comece

e tudo permaneça como está

e tudo permaneça onde está

porque tudo é lento e vazio...

 

Tudo é lento e vazio,

e tudo tende à imobilidade...

O pássaro lá fora, o vento lá fora, a folhagem lá fora...

Tudo tende à imobilidade e ao silêncio...

(Contanto que nada se comece,

tudo tende à imobilidade e ao silêncio...)

 

Muitas coisas –

e nada que valha a pena:

nada em que se possa descobrir um sentido de começo

que se possa tomar como um ponto de partida

e que justifique uma partida...

 

Tudo lento – imóvel ou lento –

e nada aí que se possa tomar como um ponto de partida...

 

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