VESPERAL
A
chuva levou
os
restos do poente
para
os lados do nascente...
Fiquei
mais cedo sem sol,
sem
tarde afora...
Vagas
estrelas molhadas
surgem,
nesta noite que chora...
A
certeza do poente
é
que o sol não faz serão.
O
sol não fica
nem
mesmo no chão...
CONSTATAÇÃO
O
que me resta agora
é
assim como a areia,
que
não passou
na
ampulheta do tempo...
Meu
tempo é um tempo silencioso,
(como
se fosse o tempo dentro do tempo...)
Não
é um tempo certo,
como
o tempo dos relógios
com
seus mecanismos e engrenagens,
que
soaram muitos alarmes,
tocaram
tantas campainhas
fizeram
uníssono com os sinos,
com
as rezas e as ladainhas,
tocaram
tantas badaladas
e
me acordaram, debalde,
em
tantas madrugadas!
DESCULPAS
A
casa ainda é a mesma,
à
beira-chão,
só
que, agora, ao lado,
passa
o mar...
Veio
não sei de onde
e,
embora o mar não esteja
nem
mesmo no sonho,
isto
bem que ajuda,
na
minha certeza.
Ouvi
ruídos que lá estavam,
pobres
chinelos arrastando,
mas
nunca ouvira aquilo, antes.
Veio
não sei de onde
aquele
mais ou quanto...
Nos
dias quentes,
vou
inventar uma fórmula pra você.
Rosa
vai, rosa vem,
o
dia fica mais além.
Rosa
fica ou vai?
Ficar
a tarde inteira,
sem
ter assunto pra conversar...
O
sonho é verde,
o
sonho é de esgotar
o
cheiro, o som, a cor do verde...
Que
a manhã te seja breve,
longínqua,
entre pardais...
Aqui
vou eu,
aqui
mais ou nunca eu!
Não
espero o futuro,
mas
o futuro me espera.
Bolas!
Eu
não escolhi a cor dos teus olhos,
não
tenho culpa deste verde,
desta
esperança que se vai,
daquele
mais ou quanto...
O
REI MIDAS
Caro
poeta,
ainda
que, num sussurro,
venhas,
um dia, a confiar
às
profundezas da terra
o
teu mais lindo poema,
alguns
caniços ao vento
sempre
haverão de clamar:
“O
poeta tem orelhas de burro,
orelhas
de burro,
burro!
burro!”
VIAGEM
Meu
sonho é grande,
mas
viaja lento,
anda
pelas nuvens,
amanhece
cedo,
fica
sobre as luzes,
acordando
o tempo
e,
talvez, quimeras...
E,
talvez, quiseras
saber
o meu sonho,
que
é verdadeiro,
que
é derradeiro.
E,
talvez, quiseras?
ALQUIMIA
De
vez em quando,
serei
tão diferente,
e
pensarás que sou o mesmo
que
já viste nos sonhos...
No
mais das vezes,
serei
tão semelhante,
mas
não perceberás
o
quanto sou diferente
do
que não viste nos sonhos...
NA
ESTRADA
Poucas
vezes o mar,
no
retrovisor,
azul,
azulmente...
Muito
mais a estrada,
a
areia branca,
imensa,
imensamente...
Busco
minha meta, meu fim,
no
sentido contrário, distante...
Um
“bip-bip” eletrônico,
incomunicável,
lunático,
talvez.
Interessam-me
(e muito!)
o
teu diagnóstico,
o
teu veredicto,
o
teu nome de guerra,
a
tua sigla, o teu “slogan”
e
sei lá mais o quê ou quando!
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