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Camille Pissarro

 

"Vesperal" e outros poemas de Mauro Mendes

 

Vesperal

Constatação

Desculpas

O rei Midas

Viagem

Alquimia

Na estrada

 

 

VESPERAL

 

A chuva levou

os restos do poente

para os lados do nascente...

Fiquei mais cedo sem sol,

sem tarde afora...

Vagas estrelas molhadas

surgem, nesta noite que chora...

A certeza do poente

é que o sol não faz serão.

O sol não fica

nem mesmo no chão...

 

 

 

CONSTATAÇÃO

 

O que me resta agora

é assim como a areia,

que não passou

na ampulheta do tempo...

Meu tempo é um tempo silencioso,

(como se fosse o tempo dentro do tempo...)

Não é um tempo certo,

como o tempo dos relógios

com seus mecanismos e engrenagens,

que soaram muitos alarmes,

tocaram tantas campainhas

fizeram uníssono com os sinos,

com as rezas e as ladainhas,

tocaram tantas badaladas

e me acordaram, debalde,

em tantas madrugadas!

 

 

 

DESCULPAS

 

A casa ainda é a mesma,

à beira-chão,

só que, agora, ao lado,

passa o mar...

Veio não sei de onde

e, embora o mar não esteja

nem mesmo no sonho,

isto bem que ajuda,

na minha certeza.

Ouvi ruídos que lá estavam,

pobres chinelos arrastando,

mas nunca ouvira aquilo, antes.

Veio não sei de onde

aquele mais ou quanto...

Nos dias quentes,

vou inventar uma fórmula pra você.

Rosa vai, rosa vem,

o dia fica mais além.

Rosa fica ou vai?

Ficar a tarde inteira,

sem ter assunto pra conversar...

O sonho é verde,

o sonho é de esgotar

o cheiro, o som, a cor do verde...

Que a manhã te seja breve,

longínqua, entre pardais...

Aqui vou eu,

aqui mais ou nunca eu!

Não espero o futuro,

mas o futuro me espera.

Bolas!

Eu não escolhi a cor dos teus olhos,

não tenho culpa deste verde,

desta esperança que se vai,

daquele mais ou quanto...

 

 

 

O REI MIDAS

 

Caro poeta,

ainda que, num sussurro,

venhas, um dia, a confiar

às profundezas da terra

o teu mais lindo poema,

alguns caniços ao vento

sempre haverão de clamar:

“O poeta tem orelhas de burro,

orelhas de burro,

burro! burro!”

 

 

 

VIAGEM

 

Meu sonho é grande,

mas viaja lento,

anda pelas nuvens,

amanhece cedo,

fica sobre as luzes,

acordando o tempo

e, talvez, quimeras...

E, talvez, quiseras

saber o meu sonho,

que é verdadeiro,

que é derradeiro.

E, talvez, quiseras?

 

 

 

ALQUIMIA

 

De vez em quando,

serei tão diferente,

e pensarás que sou o mesmo

que já viste nos sonhos...

No mais das vezes,

serei tão semelhante,

mas não perceberás

o quanto sou diferente

do que não viste nos sonhos...

 

 

 

NA ESTRADA

 

Poucas vezes o mar,

no retrovisor,

azul, azulmente...

Muito mais a estrada,

a areia branca,

imensa, imensamente...

Busco minha meta, meu fim,

no sentido contrário, distante...

Um “bip-bip” eletrônico,

incomunicável,

lunático, talvez.

Interessam-me (e muito!)

o teu diagnóstico,

o teu veredicto,

o teu nome de guerra,

a tua sigla, o teu “slogan”

e sei lá mais o quê ou quando!

 

 

 

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