"MÁSCARA" E OUTROS POEMAS
(Mauro Mendes)
MÁSCARA
(Sobre o quadro ao
lado, intitulado FUI EU, do artista plástico Valdir Rocha,
reproduzido em:<www.secrel.com.br/jpoesia/fuieu.html>)
Da minha boca,
não esperem
nenhum canto,
nem dos meus olhos,
pranto.
Vãos apelos
não escuto.
Palavras?
talvez as de olvido.
Empedernido,
só o silêncio,
na verdade,
escruto.
A esperteza de Ulisses
Enquanto vogas ao
largo,
não é muito o que me
deixas:
velhas canções de
sereias
desenhadas na areia,
quase sempre sem
resposta,
sem mais encalhes na
costa...
O pescador que se
preza,
também canta suas
endechas,
também faz redes de
reza
e até milagres de
peixes!...
Plasticidade
Ruas desertas...
Há paz no mundo,
a sempiterna paz
da pedra fria da
calçada...
A chuva molha
meu corpo de
plástico...
Esqueça o coração,
tudo está em paz...
O que importa é a
etiqueta
(Tergal ou Lycra)
e um amanhã
sintético,
que, ao longe, acena
em bandeiras de
acrílico...
Luzes da cidade
As luzes da cidade
apenas significam
que, outrora, havia
ruas
escuras de meter
medo,
de meter medo no
olho...
Hoje, eu não tenho
medo
da cidade, com suas
luzes
de neon, que me
convidam...
Hoje, eu não tenho
medo
da chuva na
madrugada
nem do meu rosto
que se ilumina
na luz branca da
calçada...
Canção com palavras
Eu vi
que você nem viu
chegar,
eu vi
que você só viu
chegar
do chão do chão,
da mão da mão,
a mão de cá...
Eu sei
que não há falta de
mar,
o mar,
que, por enquanto,
não há
você ali nem lá...
Meu álibi,
meu quase aqui...
Seu álibi,
o dia ali de lá...
Eu sei
que, por enquanto,
não há
falta de mar...
Eu sei que, por
encanto,
nunca haverá
você ali nem lá...
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