IDENTIFICAÇÃO
DE UM POETA
(Mauro Mendes)
Singro
mares de verborragia,
mas onde anda a poesia?
Assim como num cortejo,
sigo atrás de versos vários,
vagos (vários!), multifários!
Entro neste labirinto,
(cujos perigos pressinto)
aqui, caio, ali, tropeço,
recomeço,
cada passada meço
e não me reconheço!
Volto, pé ante pé,
busco minhas pegadas,
– "Por onde eu ia?
por onde eu seguia"?
pergunto aos meus astros
e à minha estrela guia!
Singro mares de verborragia
mas onde se esconde a poesia?
Tantos idílios,
eternas
juras
e desventuras!
Bruscos precipícios,
mortes anunciadas,
nem sempre concretizadas...
Manhãs cinzentas,
tardes modorrentas,
noites insones,
cavos estertores,
luas e palores!
Singro mares de verborragia,
e não encontro a poesia!
Tudo é muito manifesto
e, ao mesmo tempo, borrado,
como um palimpsesto...
Mas, de repente, num frêmito,
palma na palma, eu sinto
a impressão procurada,
a impressão desejada,
uma impressão desenhada
como finos arabescos,
sobre nervuras de folhas...
E, qual moderno Lombroso,
sem mais delonga, indigito:
– Este é o criminoso!
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