DOIS SONETOS
(John Keats)
SONETO
Tivesse eu tua imóvel cintilância,
Estrela, não sozinho na infinita
Noite, a mirar, em longa vigilância –
Da natureza insone, ermo Eremita –
As águas móveis em seu mister santo,
Puro, de abluir humanos litorais,
Ou vendo o suave, recém-caído manto
Da neve sobre outeiros e aguaçais –
Não! mas ainda firme, ainda imutável
Sobre o peito da amada em floração,
Para sempre sentir seu pulso amável,
Desperto, sempre, em doce inquietação –
E o meigo, meigo sopro surpreender
E sempre assim viver – ou perecer.
O QUE DISSE O TORDO
Tu, que sentiste o vento dos invernos,
E viste a branca neve em meio à bruma,
E os cimos do olmo entre as frias
estrelas,
Terás na primavera uma colheita.
Tu, cujo único livro foi a luz
Da treva extrema, de que te nutriste,
Noite após noite, quando o Sol se punha,
Tripla manhã terás na primavera.
Não te inquiete saber – eu nada sei,
E entanto a voz em mim é irmã do ardor;
Não te inquiete saber – eu nada sei,
E entanto a noite me ouve. Quem se
atrista
Pensando no ócio, nunca está ocioso, –
E está desperto quem se crê a dormir.
(Traduções de Renato Suttana)
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