ALEJO CARPENTIER E A UNIDADE
LATINO-AMERICANA
(Gilfrancisco*)
Para Hélio Dutra
“o
mais brasileiro dos cubanos,
o
mais cubano dos brasileiros”.
“Eu
pertenço a um país pequeno: Cuba, onde, no momento mais difícil da
ascensão do socialismo, Fidel Castro, reunido com os escritores e
artistas do país, lhe disseram, talvez por outras palavras: Façam o
que quiseram, exprimam-se como quiseram, exprimam o que quiseram,
trabalhem como quiserem, mas não trabalhem contra a revolução.
Portanto, escolhi as vossas ferramentas, as vossas formas, as vossas
técnicas, mas não percais o sentido real pós-vivente que vos
circunda e que se desenvolveu num tempo que num instante será dez
anos”.
“É
preciso que os escritores jovens deixem de lado toda impaciência por
ser conhecidos ou reconhecidos. A carreira literária é a mais longa
de todas as carreiras. Eu calculo que se necessite uns vinte anos de
atividades constantes para que o nome de um autor comece a ser
conhecido pelo público leitor. Depois disso vem à recompensa, é o
prêmio...Quando o público reconhece um autor, aí o acompanha e o
segue em todas as criações”
(Alejo
Carpentier)
No
mundo contemporâneo a América de civilização ibérica com suas
vastíssimas proporções, aprece como das maiores realidades mundiais
de hoje. O choque das civilizações astecas e andinas, com a
civilização do descobrimento e da conquista e exploração imensa do
ouro e prata. A época colonial e subseqüente independência das
modernas repúblicas. Foi criado neste vasto âmbito continental um
mundo novo, uma cultura irmã dos latinos, profundamente original. À
medida que a vasta literatura hispano-americana emerge no panorama
da cultura, as diversas literaturas nacionais que a compõem, cobra o
seu próprio e acusado perfil.
O
continente Americano é demoníaco, fonte de todas as possibilidades e
maravilhas, havendo nele dois universos: o mundo branco (cruel e
voraz) e o do negro (místico e mágico). Ambos deliberadamente
fazendo parte de sua formação intelectual. Portanto, a literatura
latino-americana e forçosamente uma antropologia, onde uma série de
imagens inquietante e superposta, de costumes e contextos diferentes
se mistura. Porque nosso continente que é objeto de saques e
deformações do imperialismo, se empenha em fragmentar ou dividir uma
possibilidade de união. Mesmo assim, os povos ainda resistem e
seguirá sempre encontrando seu espaço próprio e fértil.
Alejo
Carpentier nasceu em 1904, um ano antes da independência, na cidade
de Havana-Cuba a 26 de dezembro, sendo filho de um arquiteto francês
e de uma professora de línguas, de origem russa-branca, chegando a
Cuba dois anos antes do seu nascimento. Carpentier fez seus
primeiros estudos em Cuba, tendo como colegas: Jorge Ichazo, Juan
Marinello e Jorge Martach e os secundários na França. Em 1920,
começa a estudar arquitetura e logo abandona para dedicar ao
jornalismo e trabalha na área cultural (literatura, música e
teatro), ingressando na vida social e artística. Funda o Grupo
Minorista com outros escritores e três anos mais tarde, fora nomeado
diretor da revista Carteles. Neste mesmo ano funda a revista Avence
com Marinello, que dissemina as idéias da vanguarda artística, e
tempos depois foi preso por motivos políticos, estágio obrigatório
para todos os que pensaram numa transformação da sociedade cubana.
Quanto
o poeta francês surrealista Robert Desnos se encontrava em Cuba em
1928, convenceu a Carpentier instalar-se em Paris, onde passou a
trabalhar na Rádio, juntamente com ele e Artaud Barrault, Queneau,
Prévert e outros. Durante o tempo em que viveu em Paris, Alejo
escreve poemas, artigos e dirige a revista Iman, e participa das
atividades do grupo surrealista, sendo de grande importância para a
sua evolução como escritor. E estuda música no Liceu Jason, tendo
seus conhecimentos musicais ganho patente na magistral obra A Música
em Cuba publicada em Havana no ano de 1972. Em 1936, Carpentier
regressa a Cuba e um ano depois em plena guerra civil espanhola,
participa do Congresso dos Escritores, realizado em Madri e torna-se
amigo dos republicanos espanhóis e de vários artista que apóiam essa
causa. Nas vésperas do início da II Guerra Mundial, ele se
encontrava em Havana, pois havia recebido convite para dirigir a
Emissora Nacional de Cuba, além de ensinar música na Universidade de
Havana, atividade que se manteve até 1945.
Movido
por motivos político, vê-se obrigado a abandonar seu país, indo
viver em Caracas-Venezuela onde permanece até 1959. Com triunfo da
Revolução Cubana, retorna onde cumpre funções importantes na
imprensa do Estado, além de participar em diversas comissões
culturais e presidir durante algum tempo, a delegação cubana na
Unesco. A partir de 1966, volta à França na qualidade de
ministro-conselheiro para assuntos culturais da Embaixada de Cuba e
seis anos depois, recebe o Prêmio da Fundação Cino del Luca. Em
1978, é apresentado no Festival de Cannes, o filme do cineasta
chileno Miguel Littir, baseado no seu romance El Recurso del Método
e um ano mais tarde o Pen Clube Espanhol propõe o Prêmio Nobel de
Literatura para ele, mas a Academia de Estocolmo elege outro nome.
Por este motivo, os espanhóis dão a Carpentier o Prêmio Cervantes, e
no final do mesmo ano ele recebe o Prêmio Medicis na França, pela
novela El Arpa y la Sombra, que tem como tema a vida de Colombo.
Alejo Carpentier morre na França aos 75 anos de idade em 25 de abril
de 1980. O companheiro Fidel Castro envia a Paris um avião para
repatriar os restos do grande escritor, que recebe funerais em
território nacional.
A obra
de Carpentier é exemplo da narrativa rigorosa, devido a sua
densidade e complexidade com que são tratados seus temas. É na
verdade um novo descobrimento, que levou a sua geração adquirir
consciência, de que a América Latina tem uma especificação não
apenas política, mas cultural. No início de sua carreira, Carpentier
se mistura às inquietações sociais e o impacto da vanguarda: o
cubismo francês, o ultraísmo espanhol e os primeiros passos do
surrealismo. E a partir do contato com o último, e que nasce no
autor cubano o impulso americanista, quando rompe com o movimento,
procurando fundamentação própria da arte e da política. Como poeta é
autor do livro Poemas de las Antillas, 1948, tendo muito musicados,
cultivou um estilo pleno de calor, de sangue e de mistério. Depois
dos grandes poetas pré-modernistas cubanos, José Marti e Julian del
Casal, a única figura que adquire relevo continental é de Nicolás
Guillen, seguido de outros dois que dão continuação ao movimento:
Emilio Ballagas e Eugênio Florit. Na novela dramática, com relato de
tema negro se destaca Alejo Carpentier. Sua obra corresponde a essa
consciência introspectiva, analítica, característica da vanguarda e
se encaixa numa tradição literária hispânica. Apesar de não ser um
historiador, mas romancista, Carpentier acreditava que por causa da
angústia do homem moderno, ele estará sempre refletindo nas
convulsões e estéticas dessa época.
Carpentier é um dos fundadores de nossa literatura contemporânea,
pertence a geração cujo ponto de partida foi a vanguarda dos anos
20, e um dos grandes escritores latino-americanos, escreveu prosa
suntuosa, rica de metáforas. Alejo é o precursor do romance atual e
um dos seus expoentes. Para ele os surrealistas tiveram influência
decisiva no descobrimento da América latina, para a cultura
ocidental. E baseado nesse preceito surrealista, passou a cultivar o
realismo mágico, na procura da essência do mundo americano e sua
produção criadora e a ensaísta estão inteiramente ligadas. Seu
primeiro romance Ecué-Yanba-ó, publicado em Madri em 1933, é uma
tentativa de pintar a cultura afrocubana, revelando novas formas de
vida, novos níveis de realidade. Carpentier começou a escrevê-lo na
prisão, é um livro que se ressente de todas as perplexidades e
hesitações, próprias do seu aprendizado e se estrutura em duas
linhas: a negritude e o nacionalismo. El Reino de este Mundo,
romance publicado no México em 1949, é fruto de uma viagem realizada
com o ator francês Loius Jouvent para o Haiti, onde Carpentier
extraiu material para este livro. Onde conhece a trajetória
alucinada do monarca grego Henri Cristophe, que organiza pouco
depois da independência haitiana, um império dos moldes da corte
francesa e baseada em remotos ascendente africanos. O romance é uma
sucessão de fatos insólitos, vividos por personagens reais e
fantásticos, figuras históricas e ficcionais que se unem ou se
chocam na luta pela liberdade da antiga colônia francesa.
Alejo
contrapõe o racionalismo europeu ao misticismo maravilhoso
americano, inserindo um mundo de deuses de vodu, de entidades
fantásticas e poderosas ao reino deste mundo. Com este livro, o
cubano entra verdadeiramente na narrativa latino-americana, e começa
a busca do eu ele define de “real maravilhoso”, na própria cultura e
realidade da América. Ou seja, uma visão resultado da dialética do
objetivo e do subjetivo, é um lugar de luta, de trabalho, de dor, de
sacrifício, convulsionado por grandes catolicismos sociais, onde o
homem se ver na maioria das vezes, levado e traído por devastadoras
convulsões. Los Passos Perdidos, México, 1953, é seu melhor romance
e também o mais pessoal, está organizado como uma espécie de diário
de viagem e narrado na primeira pessoa. Este livro desenrola-se na
Venezuela, verdadeira viagem interior e exterior, uma profunda
meditação sobre a vida e todos os problemas em que se encontra o
autor. Ele conta a história de um musicólogo que abandona o mundo
civilizado para viver na selva venezuelana, em busca de instrumentos
indígenas. Este panorama é uma viagem ao universo primitivo,
percurso composto de vários caminhos, que é real e existente, um
mergulho num mundo denso de significações, um reencontro mágico com
a simplicidade da própria rotina e do desespero. Na realidade, é o
livro que representa uma crise da consciência que conduzira o
protagonista ao interior da selva, em busca do passado da humanidade
e de sua própria infância.
El
Acoso, publicado três anos depois em Buenos Aires, é ao mesmo tempo
poético e político, uma reflexão sobre a vida cubana sob a ditadura
de Machado. Neste romance, Carpentier mostra-nos um estudo
psicológico dos efeitos do medo, causado pela perseguição, revolta e
injustiça, e move-se em vários níveis, quase tudo se produz à escola
da reminiscência e da recordação. O autor nos dá, a melhor novela
inspirada nos azares revolucionários resulta traidor a seus ideais e
a sua causa. O final do acusado é chamado do apocalipse, a limpeza
necessária de tanta mistura em que degeneram homens que um dia se
consideraram a si mesmo revolucionários. Depois do triunfo de
janeiro, Carpentier como inúmeros intelectuais, relê ou lê textos
fundamentais do marxismo-leninismo, arsenal teórico, que se adere
com sinceridade e que se exalta, não somente com suas ações
políticas mas, por sua obra artística. Por este motivo, vamos
encontrar em toda a sua obra textos de Marx.
El
Siglo de las Luces, Havana, 1962 é uma análise minuciosa do
surgimento dos ideais de liberdade em nosso continente americano, e
ao mesmo tempo uma novela histórica, onde ele tenta nos mostrar uma
vasta síntese da experiência americana, um dos grandes romances
hispano-americanos. É a Revolução Francesa, primeira revolução na
história que teve repercussão universal, o que singulariza nos
personagens principais são suas idéias políticas, tomando
consciência diante da realidade da revolução. Desde o princípio,
Carpentier nos aparece neste contexto, tomando posição primeiro com
a Revolução de Outubro e depois uma luta cerrada contra o fascismo.
El Direcho de Asilo, Barcelona, 1972, marca uma nova etapa em sua
criação, apresentando claramente a corrupção dos governos, forças
militares e diplomáticas, na maior parte dos países onde apresenta
deformações do imperialismo. E como grande narrador, não perde a
oportunidade de recriar barrocamente uma situação, um acontecimento
ou um objetivo.
El
Recurso do Método, México, 1974, tem um título irônico,
parafraseando o celebre Discurso do Método de Descartes, e gira em
torno do Primeiro Magistrado da Nação, título outorgado à maioria
dos presidentes latino-americanos. Um diretor místico, que termina
por ser uma espécie de monstro hispano-americano, construindo como
retalhos de ditadores representativos; Uma mistura de cinco
personagens: Antônio Guzman Blanco e Cipriano Castro - Venezuela;
Profirio Dias - México; Manoel Estrada Cabreira- Guatemala e Geraldo
Machado de Cuba. É mais uma tentativa de sintetizar e definir o
homem americano. Deste mesmo ano é o famoso Concierto Barroco,
publicado no México, um livro onde todas as cenas iniciais estão
envoltas na atmosfera barroca, um panorama enlutado de febres
malignas, na Havana do princípio do século XVIII, sob o açoite da
cólera. El Camino de Santiago, narra a história de dois romeiros que
iniciam uma peregrinação a Santiago como penitentes e resolvem
abandonar para marcharem à América em busca de fortuna. O relato nos
intriga por sua narração, que é uma aventura e desenrolasse
simultaneamente, pois os dois personagens apesar da firme resolução
de chegar a Santiago, acabam indo para as Índias, se convertem em
indianos. Mas os problemas individuais de cada um, não resistem a
sedução que exerce sobre eles o mito do Novo Mundo.
La
Consagtracion de la Primavera, México, 1978, foi concluído em mais
de cinco anos, é sua penúltima novela e ocupa lugar especial entre
aqueles revolucionários, que lutam pela causa socialista. Esta
novela é uma visão inédita sobre a revolução cubana, apesar desse
tratamento ter raízes novelísticas do século XIX como: Leonela
(1833) de Nicolas Heredia; Frasquitoo (1884) de José de Armas e
Caspedes; Y Episódio de la Guerra (1889) de Raimundo Cabrera. Sobre
o tema da revolução, Carpentier passa a ter preocupações essenciais
como o homem de seu tempo, e como artista, havia nutrido sua obra ao
longo desses anos, e a revolução abrira novos horizontes para ele,
como parte integrante do povo cubano, na mesma medida para todos os
povos. Este livro é uma magistral resposta que ele nos dá a
perguntas já retóricas. Se existe uma novela da Revolução Cubana,
comprometida com seu tempo, abertamente partidária. É uma obra de
arte, uma das etapas finais da viagem eu tem início com o
real-maravilhoso e termina com a maravilhosa realidade da revolução.
Em El
Arpa y la Sombra, México, 1970, Carpentier narra o processo de
canonização feito pelo Vaticano, paralelamente ao monólogo de
Cristovão Colombo em seu leito de morte, ‘` espera do confessor,
recorda fragmentos de sua vida. É uma mistura alucinante,
tipicamente do humor carpentieriano. Esta é sua última novel,
delicioso relato conseguido graças ao seu grande humorismo,
oferecendo a dimensão exata do descobrimento da América e ao mesmo
tempo ridiculariza os frustrados intentos dos papas do século XIX,
por lograr sua canonização. É uma obra de estrutura complexa,
referindo-se a acontecimentos do século XV e XIX, período em que o
latim tinha amplo uso como língua de ciência e cultura e como idioma
oficial da igreja católica. Por isso, Carpentier recorreu ao maior
número de palavras e frases em Latim, para caracterizar melhor a
época. Carpentier persegue por toda sua obra e nos oferece nessa
trajetória, um choque com o mundo ainda desconhecido de nossa
América.
O
grande escritor cubano, a partir de suas crônicas publicadas em
Social e Cartele, entre 1928-1929, nos apresenta uma temática de
profundidade contínua, de grande meditação que desde suas primeiras
contribuições, difunde na Europa aspectos da arte e da realidade da
América Latina e do Caribe. Pois colabora com numerosos artigos nas
revistas francesas: Comoedia, Le Chier,l Bifur, Documents,
Transition e La Gaceta Musical. Para ele, como havia sido para José
Martí, a América é uma fartura de seiva, de poesias ocultas, de
mistérios que às vezes permanece como tal, somente por ser tão
visível, por tomar parte do cotidiano visto e revisto todos os dias
e precisamente por ele não visto. Carpentier recorre a Karl Marx e
homenageia sua contemporaneidade, recriando em imagens artísticas,
algumas de suas idéias. Principalmente quando destaca os valores
estéticos que há em sua prosa, somente de novas obras literárias, ou
quando exalta a lição de ofício em que o escritor viverá no novo
século.
Como
muitos dos escritores layinos, continua ainda desconhecido de
público brasileiro, mas é possível encontrar alguns títulos em
português: O Século das luzes, Rio, Ed. Labor - Trad. Stella
Leonardos, 1976, SP, Ed. Global, 2.ª edição -trad - Stella Leonardos;
Tietos y Diferencias de 1966, publicado com o título de literatura e
Consciência política na América Latina. São Paulo, Ed. Global, Trad.
Manuel J. Palmerim, S.D.; O Reino deste mundo, Rio, Ed. Civilização
Brasileira trad. João Olavo Saldanha, 1985; O Recurso do Método.
Rio, Ed. Marco Zero, trad. Baetariz A . Cannabrava, 1984; Os passos
Perdidos. São Paulo, Ed. Brasiliense - Trad. Josely Vianna Baptista,
1985; Concerto Barroco. São Paulo, Ed. Brasiliense - trad. Jean
Claude Bernardet e Teixera Coelho, 1985; A Sagração da Primavera.
São Paulo, Ed. Brasiliense trad. Mustafá Yazbek, 1987; A Harpa e a
Sombra. Rio, Bertrand Brasil - Trad. Reinaldo Guarany, 1987; A
Literatura do Maravilhoso. São Paulo, Vértice - Trad. Rubia Prates
Goldoni e Sérgio Molina, 1987; Écue-Yamba-ó. São Paulo, Ed.
Brasiliense - Trad. Mustafá Yazbek, 1988 e O Cerco. São Paulo, Ed.
Global - trad. Eliane Zagury, 1988.
E
sobre o autor, o livrinho de Jorge Quiroga - Em Busca do Real
Maravilhoso, série Encanto Radical da Editora Brasiliense, 1984,
além de um depoimento prestado a Klaus Muller-Bergh, ensaísta
alemão, in revista José n.º 7 (janeiro), 1977. Klaus é autor de dois
ensaios sobre Carpentier, Estúdio Biográfico e Assedio a Carpentier:
once ensayos articos sobre el novelista cubano, ambos publicados em
1972; Alejo Carpentier e o realismo maravilhoso da América Latina,
in O Continente Submerso, Leo Gilson Ribeiro. São Paulo, Editora
Best Seller, 1988 e Os Recursos do Discurso (Carpentier e
Descartes), Julio César Lobo. São Paulo, Revista - USP, (125-135),
n.º 13 (março, abril, maio), 1992. Ainda sobre ele vamos encontrar o
livro Confessiones Sencilias de um escritor barroco, Havana, 1977,
onde reúne vários textos de famosos críticos. Recentemente, a
Revista da Universidade de Havana n.º223 (set/dez) 1984, publicou um
número especial - Homenaje a Carpentier -, constando 9 ensaios
escritos por estudiosos de sua obra.
Sua
obra, publicada em vários idiomas em sucessivas edições, tem
assumido um caráter inovador e pioneiro, extraordinária contribuição
em benefício da leitura latino-americana. Que conseguiu restabelecer
forma e linguísticamente, através de uma obra que representa a mais
alta expressão da cultura latina, incorporando ao seu patrimônio. No
início de setembro de 1963, Carpentier esteve no Brasil, na mesma
época que Igor Stravinsk, por ocasião do Festival Internacional da
Música, que se celebrava no Rio de Janeiro.
Embora
marxista considerado ortodoxo, nos seus trabalhos não existe
qualquer apelo à luta de classe. É lido e traduzido praticamente no
mundo inteiro, onde as reedições dos livros se repetem todos os
anos, sem exceção. O segredo de Carpentier é que ele escreve muito
bem, baseado sempre em fatos históricos, folclóricos, musicais ou
barrocos. São trabalhos de leitura difícil, mas trata-se do maior
representante hispano-americano da literatura de pesquisa, de
elaboração calculada, que resulta definitiva, de admirável beleza
estética.
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Jornalista e professor universitário
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