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Henri Matisse, Interior com harmônio

 

ALEJO CARPENTIER E A UNIDADE LATINO-AMERICANA

 

(Gilfrancisco*)

 

Para Hélio Dutra

“o mais brasileiro dos cubanos,

o mais cubano dos brasileiros”.

 

 

“Eu pertenço a um país pequeno: Cuba, onde, no momento mais difícil da ascensão do socialismo, Fidel Castro, reunido com os escritores e artistas do país, lhe disseram, talvez por outras palavras: Façam o que quiseram, exprimam-se como quiseram, exprimam o que quiseram, trabalhem como quiserem, mas não trabalhem contra a revolução. Portanto, escolhi as vossas ferramentas, as vossas formas, as vossas técnicas, mas não percais o sentido real pós-vivente que vos circunda e que se desenvolveu num tempo que num instante será dez anos”.

                            

“É preciso que os escritores jovens deixem de lado toda impaciência por ser conhecidos ou reconhecidos. A carreira literária é a mais longa de todas as carreiras. Eu calculo que se necessite uns vinte anos de atividades constantes para que o nome de um autor comece a ser conhecido pelo público leitor. Depois disso vem à recompensa, é o prêmio...Quando o público reconhece um autor, aí o acompanha e o segue em todas as criações”

 

(Alejo Carpentier)

 

 

No mundo contemporâneo a América de civilização ibérica com suas vastíssimas proporções, aprece como das maiores realidades mundiais de hoje. O choque das civilizações astecas e andinas, com a civilização do descobrimento e da conquista e exploração imensa do ouro e prata. A época colonial e subseqüente independência das modernas repúblicas. Foi criado neste vasto âmbito continental um mundo novo, uma cultura irmã dos latinos, profundamente original. À medida que a vasta literatura hispano-americana emerge no panorama da cultura, as diversas literaturas nacionais que a compõem, cobra o seu próprio e acusado perfil.

 

O continente Americano é demoníaco, fonte de todas as possibilidades e maravilhas, havendo nele dois universos: o mundo branco (cruel e voraz) e o do negro (místico e mágico). Ambos deliberadamente fazendo parte de sua formação intelectual. Portanto, a literatura latino-americana e forçosamente uma antropologia, onde uma série de imagens inquietante e superposta, de costumes e contextos diferentes se mistura. Porque nosso continente que é objeto de saques e deformações do imperialismo, se empenha em fragmentar ou dividir uma possibilidade de união. Mesmo assim, os povos ainda resistem e seguirá sempre encontrando seu espaço próprio e fértil.

 

Alejo Carpentier nasceu em 1904, um ano antes da independência, na cidade de Havana-Cuba a 26 de dezembro, sendo filho de um arquiteto francês e de uma professora de línguas, de origem russa-branca, chegando a Cuba dois anos antes do seu nascimento. Carpentier fez seus primeiros estudos em Cuba, tendo como colegas: Jorge Ichazo, Juan Marinello e Jorge Martach e os secundários na França. Em 1920, começa a estudar arquitetura e logo abandona para dedicar ao jornalismo e trabalha na área cultural (literatura, música e teatro), ingressando na vida social e artística. Funda o Grupo Minorista com outros escritores e três anos mais tarde, fora nomeado diretor da revista Carteles. Neste mesmo ano funda a revista Avence com Marinello, que dissemina as idéias da vanguarda artística, e tempos depois foi preso por motivos políticos, estágio obrigatório para todos os que pensaram numa transformação da sociedade cubana.

 

Quanto o poeta francês surrealista Robert Desnos se encontrava em Cuba em 1928, convenceu a Carpentier instalar-se em Paris, onde passou a trabalhar na Rádio, juntamente com ele e Artaud Barrault, Queneau, Prévert e outros. Durante o tempo em que viveu em Paris, Alejo escreve poemas, artigos e dirige a revista Iman, e participa das atividades do grupo surrealista, sendo de grande importância para a sua evolução como escritor. E estuda música no Liceu Jason, tendo seus conhecimentos musicais ganho patente na magistral obra A Música em Cuba publicada em Havana no ano de 1972. Em 1936, Carpentier regressa a Cuba e um ano depois em plena guerra civil espanhola, participa do Congresso dos Escritores, realizado em Madri e torna-se amigo dos republicanos espanhóis e de vários artista que apóiam essa causa. Nas vésperas do início da II Guerra Mundial, ele se encontrava em Havana, pois havia recebido convite para dirigir a Emissora Nacional de Cuba, além de ensinar música na Universidade de Havana, atividade que se manteve até 1945.

 

Movido por motivos político, vê-se obrigado a abandonar seu país, indo viver em Caracas-Venezuela onde permanece até 1959. Com triunfo da Revolução Cubana, retorna onde cumpre funções importantes na imprensa do Estado, além de participar em diversas comissões culturais e presidir durante algum tempo, a delegação cubana na Unesco. A partir de 1966, volta à França na qualidade de ministro-conselheiro para assuntos culturais da Embaixada de Cuba e seis anos depois, recebe o Prêmio da Fundação Cino del Luca. Em 1978, é apresentado no Festival de Cannes, o filme do cineasta chileno Miguel Littir, baseado no seu romance El Recurso del Método e um ano mais tarde o Pen Clube Espanhol propõe o Prêmio Nobel de Literatura para ele, mas a Academia de Estocolmo elege outro nome. Por este motivo, os espanhóis dão a Carpentier o Prêmio Cervantes, e no final do mesmo ano ele recebe o Prêmio Medicis na França, pela novela El Arpa y la Sombra, que tem como tema a vida de Colombo. Alejo Carpentier morre na França aos 75 anos de idade em 25 de abril de 1980. O companheiro Fidel Castro envia a Paris um avião para repatriar os restos do grande escritor, que recebe funerais em território nacional.

 

A obra de Carpentier é exemplo da narrativa rigorosa, devido a sua densidade e complexidade com que são tratados seus temas. É na verdade um novo descobrimento, que levou a sua geração adquirir consciência, de que a América Latina tem uma especificação não apenas política, mas cultural. No início de sua carreira, Carpentier se mistura às inquietações sociais e o impacto da vanguarda: o cubismo francês, o ultraísmo espanhol e os primeiros passos do surrealismo. E a partir do contato com o último, e que nasce no autor cubano o impulso americanista, quando rompe com o movimento, procurando fundamentação própria da arte e da política. Como poeta é autor do livro Poemas de las Antillas, 1948, tendo muito musicados, cultivou um estilo pleno de calor, de sangue e de mistério. Depois dos grandes poetas pré-modernistas cubanos, José Marti e Julian del Casal, a única figura que adquire relevo continental é de Nicolás Guillen, seguido de outros dois que dão continuação ao movimento: Emilio Ballagas e Eugênio Florit. Na novela dramática, com relato de tema negro se destaca Alejo Carpentier. Sua obra corresponde a essa consciência introspectiva, analítica, característica da vanguarda e se encaixa numa tradição literária hispânica. Apesar de não ser um historiador, mas romancista, Carpentier acreditava que por causa da angústia do homem moderno, ele estará sempre refletindo nas convulsões e estéticas dessa época.

 

Carpentier é um dos fundadores de nossa literatura contemporânea, pertence a geração cujo ponto de partida foi a vanguarda dos anos 20, e um dos grandes escritores latino-americanos, escreveu prosa suntuosa, rica de metáforas. Alejo é o precursor do romance atual e um dos seus expoentes. Para ele os surrealistas tiveram influência decisiva no descobrimento da América latina, para a cultura ocidental. E baseado nesse preceito surrealista, passou a cultivar o realismo mágico, na procura da essência do mundo americano e sua produção criadora e a ensaísta estão inteiramente ligadas. Seu primeiro romance Ecué-Yanba-ó, publicado em Madri em 1933, é uma tentativa de pintar a cultura afrocubana, revelando novas formas de vida, novos níveis de realidade. Carpentier começou a escrevê-lo na prisão, é um livro que se ressente de todas as perplexidades e hesitações, próprias do seu aprendizado e se estrutura em duas linhas: a negritude e o nacionalismo. El Reino de este Mundo, romance publicado no México em 1949, é fruto de uma viagem realizada com o ator francês Loius Jouvent para o Haiti, onde Carpentier extraiu material para este livro. Onde conhece a trajetória alucinada do monarca grego Henri Cristophe, que organiza pouco depois da independência haitiana, um império dos moldes da corte francesa e baseada em remotos ascendente africanos. O romance é uma sucessão de fatos insólitos, vividos por personagens reais e fantásticos, figuras históricas e ficcionais que se unem ou se chocam na luta pela liberdade da antiga colônia francesa.

 

Alejo contrapõe o racionalismo europeu ao misticismo maravilhoso americano, inserindo um mundo de deuses de vodu, de entidades fantásticas e poderosas ao reino deste mundo. Com este livro, o cubano entra verdadeiramente na narrativa latino-americana, e começa a busca do eu ele define de “real maravilhoso”, na própria cultura e realidade da América. Ou seja, uma visão resultado da dialética do objetivo e do subjetivo, é um lugar de luta, de trabalho, de dor, de sacrifício, convulsionado por grandes catolicismos sociais, onde o homem se ver na maioria das vezes, levado e traído por devastadoras convulsões. Los Passos Perdidos, México, 1953, é seu melhor romance e também o mais pessoal, está organizado como uma espécie de diário de viagem e narrado na primeira pessoa. Este livro desenrola-se na Venezuela, verdadeira viagem interior e exterior, uma profunda meditação sobre a vida e todos os problemas em que se encontra o autor. Ele conta a história de um musicólogo que abandona o mundo civilizado para viver na selva venezuelana, em busca de instrumentos indígenas. Este panorama é uma viagem ao universo primitivo, percurso composto de vários caminhos, que é real e existente, um mergulho num mundo denso de significações, um reencontro mágico com a simplicidade da própria rotina e do desespero. Na realidade, é o livro que representa uma crise da consciência que conduzira o protagonista ao interior da selva, em busca do passado da humanidade e de sua própria infância.

 

El Acoso, publicado três anos depois em Buenos Aires, é ao mesmo tempo poético e político, uma reflexão sobre a vida cubana sob a ditadura de Machado. Neste romance, Carpentier mostra-nos um estudo psicológico dos efeitos do medo, causado pela perseguição, revolta e injustiça, e move-se em vários níveis, quase tudo se produz à escola da reminiscência e da recordação. O autor nos dá, a melhor novela inspirada nos azares revolucionários resulta traidor a seus ideais e a sua causa. O final do acusado é chamado do apocalipse, a limpeza necessária de tanta mistura em que degeneram homens que um dia se consideraram a si mesmo revolucionários. Depois do triunfo de janeiro, Carpentier como inúmeros intelectuais, relê ou lê textos fundamentais do marxismo-leninismo, arsenal teórico, que se adere com sinceridade e que se exalta, não somente com suas ações políticas mas, por sua obra artística. Por este motivo, vamos encontrar em toda a sua obra textos de Marx.

 

El Siglo de las Luces, Havana, 1962 é uma análise minuciosa do surgimento dos ideais de liberdade em nosso continente americano, e ao mesmo tempo uma novela histórica, onde ele tenta nos mostrar uma vasta síntese da experiência americana, um dos grandes romances hispano-americanos. É a Revolução Francesa, primeira revolução na história que teve repercussão universal, o que singulariza nos personagens principais são suas idéias políticas, tomando consciência diante da realidade da revolução. Desde o princípio, Carpentier nos aparece neste contexto, tomando posição primeiro com a Revolução de Outubro e depois uma luta cerrada contra o fascismo. El Direcho de Asilo, Barcelona, 1972, marca uma nova etapa em sua criação, apresentando claramente a corrupção dos governos, forças militares e diplomáticas, na maior parte dos países onde apresenta deformações do imperialismo. E como grande narrador, não perde a oportunidade de recriar barrocamente uma situação, um acontecimento ou um objetivo.

 

El Recurso do Método, México, 1974, tem um título irônico, parafraseando o celebre Discurso do Método de Descartes, e gira em torno do Primeiro Magistrado da Nação, título outorgado à maioria dos presidentes latino-americanos. Um diretor místico, que termina por ser uma espécie de monstro hispano-americano, construindo como retalhos de ditadores representativos; Uma mistura de cinco personagens: Antônio Guzman Blanco e Cipriano Castro - Venezuela; Profirio Dias - México; Manoel Estrada Cabreira- Guatemala e Geraldo Machado de Cuba. É mais uma tentativa de sintetizar e definir o homem americano. Deste mesmo ano é o famoso Concierto Barroco, publicado no México, um livro onde todas as cenas iniciais estão envoltas na atmosfera barroca, um panorama enlutado de febres malignas, na Havana do princípio do século XVIII, sob o açoite da cólera. El Camino de Santiago, narra a história de dois romeiros que iniciam uma peregrinação a Santiago como penitentes e resolvem abandonar para marcharem à América em busca de fortuna. O relato nos intriga por sua narração, que é uma aventura e desenrolasse simultaneamente, pois os dois personagens apesar da firme resolução de chegar a Santiago, acabam indo para as Índias, se convertem em indianos. Mas os problemas individuais de cada um, não resistem a sedução que exerce sobre eles o mito do Novo Mundo.

 

La Consagtracion de la Primavera, México, 1978, foi concluído em mais de cinco anos, é sua penúltima novela e ocupa lugar especial entre aqueles revolucionários, que lutam pela causa socialista. Esta novela é uma visão inédita sobre a revolução cubana, apesar desse  tratamento ter raízes novelísticas do século XIX como: Leonela (1833) de Nicolas Heredia; Frasquitoo (1884) de José de Armas e Caspedes; Y Episódio de la Guerra (1889) de Raimundo Cabrera. Sobre o tema da revolução, Carpentier passa a ter preocupações essenciais como o homem de seu tempo, e como artista, havia nutrido sua obra ao longo desses anos, e a revolução abrira novos horizontes para ele, como parte integrante do povo cubano, na mesma medida para todos os povos. Este livro é uma magistral resposta que ele nos dá a perguntas já retóricas. Se existe uma novela da Revolução Cubana, comprometida com seu tempo, abertamente partidária. É uma obra de arte, uma das etapas finais da viagem eu tem início com o real-maravilhoso e termina com a maravilhosa realidade da revolução.

 

Em El Arpa y la Sombra, México, 1970, Carpentier narra o processo de canonização feito pelo Vaticano, paralelamente ao monólogo de Cristovão Colombo em seu leito de morte, ‘` espera do confessor, recorda fragmentos de sua vida. É uma mistura alucinante, tipicamente do humor carpentieriano. Esta é sua última novel, delicioso relato conseguido graças ao seu grande humorismo, oferecendo a dimensão exata do descobrimento da América e ao mesmo tempo ridiculariza os frustrados intentos dos papas do século XIX, por lograr sua canonização. É uma obra de estrutura complexa, referindo-se a acontecimentos do século XV e XIX, período em que o latim tinha amplo uso como língua de ciência e cultura e como idioma oficial da igreja católica. Por isso, Carpentier recorreu ao maior número de palavras e frases em Latim, para caracterizar melhor a época. Carpentier persegue por toda sua obra e nos oferece nessa trajetória, um choque com o mundo ainda desconhecido de nossa América.

 

O grande escritor cubano, a partir de suas crônicas publicadas em Social e Cartele, entre 1928-1929, nos apresenta uma temática de profundidade contínua, de grande meditação que desde suas primeiras contribuições, difunde na Europa aspectos da arte e da realidade da América Latina e do Caribe. Pois colabora com numerosos artigos nas revistas francesas: Comoedia, Le Chier,l Bifur, Documents, Transition e La Gaceta Musical. Para ele, como havia sido para José Martí, a América é uma fartura de seiva, de poesias ocultas, de mistérios que às vezes permanece como tal, somente por ser tão visível, por tomar parte do cotidiano visto e revisto todos os dias e precisamente por ele não visto. Carpentier recorre a Karl Marx e homenageia sua contemporaneidade, recriando em imagens artísticas, algumas de suas idéias. Principalmente quando destaca os valores estéticos que há em sua prosa, somente de novas obras literárias, ou quando exalta a lição de ofício em que o escritor viverá no novo século.

 

Como muitos dos escritores layinos, continua ainda desconhecido de público brasileiro, mas é possível encontrar alguns títulos em português: O Século das luzes, Rio, Ed. Labor - Trad. Stella Leonardos, 1976, SP, Ed. Global, 2.ª edição -trad - Stella Leonardos; Tietos y Diferencias de 1966, publicado com o título de literatura e Consciência política na América Latina. São Paulo, Ed. Global, Trad. Manuel J. Palmerim, S.D.; O Reino deste mundo, Rio, Ed. Civilização Brasileira trad. João Olavo Saldanha, 1985; O Recurso do Método. Rio, Ed. Marco Zero, trad. Baetariz A . Cannabrava, 1984; Os passos Perdidos. São Paulo, Ed. Brasiliense - Trad. Josely Vianna Baptista, 1985; Concerto Barroco. São Paulo, Ed. Brasiliense - trad. Jean Claude Bernardet e Teixera Coelho, 1985; A Sagração da Primavera. São Paulo, Ed. Brasiliense trad. Mustafá Yazbek, 1987; A Harpa e a Sombra. Rio, Bertrand Brasil - Trad. Reinaldo Guarany, 1987; A Literatura do Maravilhoso. São Paulo, Vértice - Trad. Rubia Prates Goldoni e Sérgio Molina, 1987; Écue-Yamba-ó. São Paulo, Ed. Brasiliense - Trad. Mustafá Yazbek, 1988 e O Cerco. São Paulo, Ed. Global - trad. Eliane Zagury, 1988.

 

E sobre o autor, o livrinho de Jorge Quiroga - Em Busca do Real Maravilhoso, série Encanto Radical da Editora Brasiliense, 1984, além de um depoimento prestado a Klaus Muller-Bergh, ensaísta alemão, in revista José n.º 7 (janeiro), 1977. Klaus é autor de dois ensaios sobre Carpentier, Estúdio Biográfico e Assedio a Carpentier: once ensayos articos sobre el novelista cubano, ambos publicados em 1972; Alejo Carpentier e o realismo maravilhoso da América Latina, in O Continente Submerso, Leo Gilson Ribeiro. São Paulo, Editora Best Seller, 1988 e Os Recursos do Discurso (Carpentier e Descartes), Julio César Lobo. São Paulo, Revista - USP, (125-135), n.º 13 (março, abril, maio), 1992. Ainda sobre ele vamos encontrar o livro Confessiones Sencilias de um escritor barroco, Havana, 1977, onde reúne vários textos de famosos críticos. Recentemente, a Revista da Universidade de Havana n.º223 (set/dez) 1984, publicou um número especial - Homenaje a Carpentier -, constando 9 ensaios escritos por estudiosos de sua obra.

 

Sua obra, publicada em vários idiomas em sucessivas edições, tem assumido um caráter inovador e pioneiro, extraordinária contribuição em benefício da leitura latino-americana. Que conseguiu restabelecer forma e linguísticamente, através de uma obra que representa a mais alta expressão da cultura latina, incorporando ao seu patrimônio. No início de setembro de 1963, Carpentier esteve no Brasil, na mesma época que Igor Stravinsk, por ocasião do Festival Internacional da Música, que se celebrava no Rio de Janeiro.

 

Embora marxista considerado ortodoxo, nos seus trabalhos não existe qualquer apelo à luta de classe. É lido e traduzido praticamente no mundo inteiro, onde as reedições dos livros se repetem todos os anos, sem exceção. O segredo de Carpentier é que ele escreve muito bem, baseado sempre em fatos históricos, folclóricos, musicais ou barrocos. São trabalhos de leitura difícil, mas trata-se do maior representante hispano-americano da literatura de pesquisa, de elaboração calculada, que resulta definitiva, de admirável beleza estética.

 

 

* Jornalista e professor universitário

 

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