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Carlos Martins, A roda do destino

 

A ROMANCISTA ALINA PAIM

 

(Gilfrancisco*)

 

Silenciosa, talentosa e paciente, essa romancista sergipana, deficiente visual aos 87 anos, construiu seu mundo sem pressa, jamais se desligou do interesse humano, do sentido político e social de suas histórias e de seus personagens. Apesar das opiniões favoráveis a sua obra que mereceram da crítica nacional e internacional, a colocando na altura das melhores romancistas da sua geração, seu nome está injustamente excluído dos compêndios literários brasileiros. Muitos desses intelectuais militantes, a exemplo de Enoch Santiago Filho, Renato Mazze Lucas, Jacinta Passos e a própria Alina Paim foram também silenciados pelo Partido, apesar de terem sido beneficiados da rede de relações construída no seu itinerário.

 

***

 

Gênero literário em prosa, relativamente longo, o romance é caracterizado pela narrativa de acontecimentos fictícios, mas geralmente verossímeis, relacionados a uma ação centrada num enredo, na análise de personagens ou no exame de uma situação. Entendido como sucedâneo do poema épico, o romance moderno tem raízes nos romances de cavalaria, mas só se configurou como hoje o conhecemos no século XVIII, tendo por precursores entre outros, o abade Prévost (Manon Lescaut, 1731) e Henry Fielding (Tom Jones, 1749).

 

Ciente de sua vocação literária e disposta a seguir a trilha, Alina Paim optou pelo romance, não se deixou tentar pela atração do conto, nem da crônica, nem mesmo de artigo para jornal. Seu interesse maior e único o romance. Mesmo tendo estreado aos 23 anos, o tempo lhe assegurou o necessário capital de experiência e observação, indispensáveis para todo romancista. O romance tem em Alina Paim a mão que o denuncia de todos os segredos e violências, explorando-o em cada ângulo difícil sem restringi-lo à mera análise superficial, exigindo assim do crítico que a estuda um esforço vital, um reconhecimento de nuances, ampliando sua visão de autora consciente e politizada.

 

Alina dá a medida exata, a atualização essencial da narrativa romanesca, um sentido de concepção nova na caracterização dos personagens, onde os conflitos interiores surgem à descoberta inteiramente vigiada pelos seus equilíbrios de narradora onisciente. Alina é uma romancista que escreve com naturalidade, conta a sua história com um gosto e emoção crescente, conseguindo captar o que há de duradouro e de eteno na criatura humana. Denunciando a história de várias criaturas, cujos pequenos dramas ganham enormes proporções, porque exprimem toda espécie de mutilação de uma sociedade rural, como no romance Simão Dias.

 

Alina Leite Paim nasceu na cidade de Estância, (68 km de Aracaju) berço da imprensa sergipana, a 10 de outubro de 1919, filha de Manuel Vieira Leite e de Maria Portela de Andrade Leite, ambos sergipanos. Com três meses de idade mudou-se com os pais para Salvador. Ao perder a mãe, foi para Simão Dias (SE), morar na casa dos avós paternos, onde sofreu muito com a rigorosa educação dos parentes, principalmente pelas constantes e severas repreensões das três tias solteironas. A severa educação que recebera nesses primeiros anos, de certa forma contribuiria para sua aprovação em 1932, no primeiro ano do curso fundamental com distinção nos exames de suficiência do Colégio Nossa Senhora da Soledade, em Salvador.

 

Simão Dias foi um celeiro político-econômico de grandes e influentes famílias que marcaram toda a história de Sergipe. Ali, Alina fez os estudos preliminares na Escola Menino Jesus e dos sete aos dez anos, freqüentou o Grupo Escolar Fausto Cardoso, da Praça da Matriz, onde recebe formação religiosa e participa de diversas atividades relacionadas à expansão do catolicismo. Parte de sua infância e adolescência serviu de cenário e título para o seu segundo romance, escrito nos meses de agosto a dezembro de 1946. Mudou-se outra vez para Salvador e continuou seus estudos no colégio Nossa Senhora da Soledade. Aos doze anos passou a escrever para o jornalzinho do educandário de freiras, onde se formou como professora e trabalhando depois numa escola da Estrada da Liberdade, hoje um dos bairros mais populosos de Salvador.

 

Casou-se em 1943, com o médico baiano Isaías Paim e mudou-se em seguida para o Rio de Janeiro, onde reside com uma de suas filhas. Como na época não conseguisse trabalho, foi ensinar na Escola para filhos de pescadores, na Ilha de Marambaia. Aí escreveu seu primeiro romance, Estrada da Liberdade, publicado em fins de 1944, com enorme repercussão nos meios literários e de público, esgotando-se em quatro meses a primeira edição.

 

Com seu diploma de professora somente era válido dentro dos limites do Estado da Bahia, encontrou-se, de súbito, sem profissão definida. E, a convite de Fernando Tude de Souza, diretor da Rádio do Ministério da Educação e Cultura - MEC, começou a escrever para o programa infantil “No Reino da Alegria”, dirigido por Geni Marcodes. Para esse programa, colaborou entre 1945 a 1956, escrevendo para crianças e adolescentes. Desde sua chega ao Rio de Janeiro, Alina participou ativamente da vida literária do País, publicou quase dez romance e quatro obras infantis, alguns de seus romances foram editados na Rússia (1957), China (1959), Bulgária (1963) e Alemanha (1968).

 

Em 1944, a jovem Alina Paim se dirigiu a Barboza Mello, ligado ao Partido Comunista, então diretor da Editora Leitura, levada pelo jornalista Osvaldo Alves para entregar os originais do livro Estrada da Liberdade, e durante esse primeiro contato, a jovem foi contando como e porque o escreve. Segundo Barboza, Alina Paim era “uma menina de cabelos soltos, cacheados, 1,50 de altura, 48 quilos de peso, rosto bonito de ingênua, fala suave, e uma tímida inconcebível numa adolescente que queria ser escritora”.

 

Publicado pela Editora Leitura, do Rio em 1944, o romance Estrada da Liberdade retrata a vida de uma professora cheia de idéias, em contato com a amarga realidade de sua comunidade de bairro proletário, onde tenta aplicar métodos modernos de aprendizagem. Alina baseou-se em sua infeliz experiência para escrever. Conheceu a fome e a miséria da infância baiana abandonada, de quem ela se apaixonou e que muito contribuiu para leva-la a colocar a sua arte a serviço do povo. Pouco a pouco a professora vai tendo a revelação de tudo. L~e livros diferentes dados por amigos novos e chega assim a uma nova concepção da vida, do amor, das relações entre as pessoas humanas e revolta-se contra tudo que é falso e lhe fora ensinado, uma educação dirigida no interesse dos poderosos e ricos.

 

Esse é o clima em que se desenvolve a ação de Estrada da Liberdade, cuja estrada entraram as primeiras “tropas libertadoras” nas lutas da Independência da Bahia (1823), e, por esse motivo, recebeu a denominação simbólica. Alina faz isso com muita felicidade: não cria as histórias, não inventa, mostra-se apenas com o coração revoltada pelas injustiças sociais e pela miséria econômica, como se contasse para uma pessoa amiga aquilo que viu e ouviu.

 

Essa obra foi muito elogiada pela crítica, pois nela a autora já mostra sua tendência para a ficção e para as causas humanitárias. Estrada da Liberdade é uma romance simples, sem as costumeiras técnicas apuradas, foge a temática da época (seca, cangaço, cacau, café). O painel do livro, prende a atenção do leitor pela leveza do estilo e pela condição natural dos seus personagens que se apresentam como qualquer humano, com defeitos e qualidades. Em menos de 2 anos a edição de Estrada da Liberdade estava esgotada, tendo contribuído para isso as freiras daquele Convento que eram as maiores compradoras do livro, não para ler, mas para queimar... Elas não gostaram do que Alina havia escrito, colaborando para a imortalidade do Convento N. S. da Soledade.

 

A partir daí, seguem vários romances que denunciam o poder dos fortes sobre os fracos. Mostra, também, o amor como forma de realização e destruição do ser humano; a exploração do homem como força-trabalho, que caracteriza a sociedade brasileira. Suas obras sempre refletem um tipo de crítica humanitária. Alina Paim sempre foi tida como de esquerda e lutadora pelas causas feministas o que lhe causou sérios problemas durante o regime militar no Brasil nas décadas de 60 e 70.

 

A redemocratização do país em 1945, com a queda de Getúlio Vargas e a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, coincidiria com a imposição de novos reformismos, a partir do Ato Adicional nº 9 de fevereiro, o Brasil se surpreende com a extensão e a importância do movimento comunista, que está ligado ou dirigindo uma série de atividades políticas fundamentais. Com a saída de Carlos Prestes da prisão, um novo panorama se apresenta: o PCB se tornará legal e uma nova fase se abre para as esquerdas, em geral. A sociedade brasileira, então, irá passar por um novo momento de sua história, havendo a participação democrática de todas as suas classes sociais e uma mais ampla conquista de direito sociais e isso inclui a literatura.

 

A morte de Mário de Andrade nesse ano como que assinala o fim de um ciclo questionador da cultura, das instituições e das idéias. Sua obra crítica deixa entrevar não apenas força aglutinadora, mas sobretudo sensibilidade e abertura intelectual e todas as vocações capazes de revelar aspectos inventivos de algum modo interligados com a trajetória renovadora da arte no Brasil.

 

Em 1949 a Livraria Editora Casa do Estudante do Brasil edita o romance Simão Dias, com apresentação de Graciliano Ramos, amigo e grande incentivador da tímida escritora sergipana: “A estréia, recebida com louvores, jogou a moça na literatura. Alina fez vários livros. Este, o terceiro, deixa longe a Estrada da Liberdade, manifesta um valor que o trabalho da juventude apenas indicava. A autora observa, estuda com paciência, tem a honestidade rigorosa de não tratar de um assunto sem domina-lo inteiramente. As suas personagens são criaturas que a fizeram padecer na infância ou lhe deram alguns momentos de alegria, em cidadezinhas do interior. Nenhum excesso de imaginação.”

 

Neste livro, Alina retrata parte de sua infância e adolescência, compartilha com o leitor suas memórias sobre o cotidiano desta cidade do estado de Sergipe. Orientada pelo amigo Graciliano Ramos, Alina mantém o teor autobiográfico do romance, não substituindo os verdadeiros nomes dos personagens, no intuito de aproximar ao leitor o cotidiano da cidade e de seus habitantes nomeados no relato. Quando o romance foi publicado causou espanto em alguns membros de sua família, pois tiveram as suas vidas expostas publicamente. Alina escreveu um livro útil e o fez com amor, com generosa ternura, captando o ambiente, o meio, a atmosfera que cercou a formação, intelectual e humanista, erigindo o edifício do seu romance argamassando-o de reminiscências pessoais ou coletando depoimentos.

 

A Sombra do Patriarca de 1950, publicado pela Livraria Globo retrata a vida no campo romanceando a maléfica e prepotente atuação do Senhor de Engenho. É neste ambiente do meio rural do Nordeste, numa antiga fazenda na qual um mundo de personagens vive em redor do velho fazendeiro, tio Ramiro, e em função dele. As pessoas e as coisas obedecem ao patriarca, sua vontade prevalece sobre tudo e todos. Existências se mutilam sob o poder dessa energia despótica e rígida, sob caprichos decorrentes de uma concepção absurda da vida. O velho latifúndio muda a seu talante o destino de todo ser humano a seu alcance.

 

Ninguém se surpreende com tal estado de coisas até que um dia Raquel, uma sobrinha do velho, vem passar poucos dias na fazenda. Mas como adoece de impaludismo, é forçada a permanecer mais tempo, observa o poder infinito e anacrônico do patriarca, descobre uma por uma as causas – locais, sociológicas, históricas, psíquicas – em que ele se baseia, e com o descobrimento começa a revoltar-se contra ele. Assim é a história de Raquel na velha fazenda, contada por ela na primeira pessoa, mas é também uma imagem do latifúndio que confere ilimitado poder a seu detentor e paralisa todas as vidas que dele dependem. A Sombra do Patriarca, de Alina Paim, é o quadro vivo das vidas em conflitos, em que a opulência acaba sendo derrotada pelas forças coesas de uma classe que um dia entendeu de reivindicar ancestrais direitos postergados.

 

A literatura popular refletiu as lutas desse período. Em particular a coleção, “Romances do Povo”, dirigida por Jorge Amado, publicada pela Editora Vitória que reuniu 25 títulos de autores de vários países. Um desses livros, A Hora Próxima, é de Alina Paim, escritora sergipana militante do Partido Comunista do Brasil e colaborou na elaboração de uma narrativa literária que espalham as lutas do povo, revelando o futuro de inevitáveis conquistas para o proletariado. A Hora Próxima, título que compõe a coleção (Vol. XI), vendeu 10 mil exemplares somente na primeira tiragem, em 1955. O livro foi traduzido para o russo e chinês, segue as pegadas de Jorge Amado, introdutor e praticante-mor do realismo socialista no Brasil.

 

Segundo Jacob Gorender, em 1950, ouve uma reunião no Rio de Janeiro, num apartamento em Copacabana dirigida por Diógenes Arruda, então braço direito de Carlos Prestes, contando com a presença de aproximadamente 30 intelectuais militantes, entre eles Alina Paim, James Amado, Carrera Guerra, Astrojildo Pereira, Werneck de Castro, Oswaldino Marques e outros. O objetivo do encontro era “implantar a teoria do realismo socialista entre os intelectuais comunista”. Arruda, tentou orientar a produção cultural dos militantes, mas encontrou resistência, porém, entre os próprios intelectuais alinhados, caso de Graciliano Ramos.

 

O Realismo Socialista, padrão estético imposto pelo regime comunista na antiga União Soviética, com a missão de controlar a produção intelectual, subordinando-a aos cânones dogmáticos do comunismo de então. De acordo com tais princípios, a literatura e a arte deviam exercer papel exclusivamente pedagógico, difundindo os esforços comunistas para a construção do “homem novo” e do “mundo novo” nos países socialistas. Para tanto, os textos deveriam ser pautados pela objetividade social e participante. Em lugar da cultura burguesa, considerada pelos comunistas “decadente e degenerada”, os escritores e artistas tinham por obrigação se empenhar em edificar a “cultura proletária”, que julgavam a única capaz de desmistificar os valores morais da classe dominante e sustentar o caráter revolucionário da obra de arte. Graciliano, apesar de se ter filiado ao Partido Comunista, jamais tolerou tal ingerência partidária no campo da literatura.

 

A ação central do livro é uma greve dos ferroviários em 1950, em vários entroncamentos da Rede Mineira. A estrada da Rede, em Cruzeiro, é tomada por um piquete de mulheres com a tarefa de deter a locomotiva 437, que se prepara para engatar uma composição e seguir viagem. O maquinista titubeia e, ante a firmeza e ousadia do grupo de mulheres, pára a 437, que imediatamente tem na caldeira esfriada e posta fora de combate. A locomotiva se tornará a bandeira do movimento grevista. Escrito há cinqüenta e seis anos, A Hora Próxima, se refere ao grande momento em que as massas, protagonistas de uma ação política organizada e revolucionária, dirigirão a humanidade ao rompimento da aurora. A narrativa de Alina Paim se prende à ação das massas, sem contudo tornar-se aprisionada de factualismos e justificativas.

 

O romancista baiano prefaciou o romance “Sol do Meio-Dia”, vencedor entre mais de uma centena de concorrentes, prêmio Manoel Antonio de Almeida, concedido pela Associação Brasileira do Livro, em 1962, o livro foi publicado no ano anterior pelas edições ABL, comenta a trajetória da romancista, desde da estréia de Estrada da Liberdade. A história de Ester, a jovem que veio de Paripiranga para o Rio de Janeiro, cidade maravilhosa e vive nas pensões coletivas, onde se concentra a população problematizada pelas dificuldades nas grandes cidades: “Volta hoje, Alina Paim a seu público com Sol do meio-dia, romance já consagrado com um alto prêmio, o da Associação Brasileira do Livro, julgado já por figuras como as de Valdemar Cavalcanti, João Felício dos Santos e Plínio Bastos. Eis uma notícia excelente para os leitores, sobretudo para os muito que têm acompanhado com constância e admiração a carreira vitoriosa da romancista. Ela atinge agora sua maturidade criadora. A menina da Estrada da Liberdade, que irrompeu pelo romance brasileiro em 1945 e nele impôs sua presença, soube construir seu caminho e crescer de livro para livro, para chegar à madureza deste Sol do meio-dia, que será sem dúvida um dos acontecimentos literários importantes do ano. Estou certo do sucesso deste romance não só junto aos intelectuais mas também entre o grande público pois ele é construído com a experiência vivida e o amor ao ser humano”.

 

A escritora estanciana fez incursões na literatura infantil, atendendo solicitação da Editora Conquista, publicou: O Lenço encantado; A casa da coruja verde e Luzbela vestida de cigana. Em 1965, no mais disputado certame novelística da época no país, em meio a três centenas de livros, coube a sua Trilogia de Catarina o Prêmio Especial Walmap, IV Centenário do Rio de Janeiro criado exclusivamente para distinguir essa obra. A comissão julgadora foi integrada pelos acadêmicos Raimundo Magalhães Júnior, Adonias Filho e pelo novelista Otto Lara Resende. A Trilogia de Catarina, lançada pela Editora Lidador na coleção Imago, compreende os seguintes títulos: O Sino e a Rosa, A Chave do Mundo e o Círculo, em que a romancista traça a trajetória de uma mulher entre o sonho, o aprendizado da vida na busca de um sentido existencial, num protesto contra os códigos, sempre dentro de um padrão da realidade e dignidade feminina.

 

Indagada sobre o sentido de sua personagem, informa Alina Paim: “Catarina tem uma constante: a busca do sentido da vida, a compreensão de si mesma e do que lhe acontece para melhor se integrar na vida e no convívio de seus semelhantes. Os três romances de Catarina deslizam no espaço de uma noite e de vigília. É um trabalha com muitos planos de tempo. Ao amanhecer, após longa análise, a Catarina que encara o sol é bem mais amadurecida que a Catarina que se encolheu no topo da escada, no princípio da noite. Foram violados, com certa audácia, os seus compartimentos selados”.

 

Um ano depois publica Flores de Algodão e Treze anos depois rompe o silêncio com “A Correnteza”, publicada pela Record em 1979. Sobre este romance, um dos maiores críticos literários da época, Valdemar Cavalcanti diz que o romance “constitui um painel da vida de subúrbio do Rio. Mas não é positivamente a moldura o que mais importa neste romance, embora montada com indiscutível mestria. Importante mesmo é o quadro psicológico que Alina Paim apresenta, de extraordinária nitidez. E o leitor inteligente observe no fino do traço das figuras femininas, em particular, e veja como ela as desenha, com mãos leves e firmes, mãos como de uma Marie Laurencin que se desse ao romance”. A Correnteza ocupa lugar privilegiado neste espaço ficcional brasileiro, livro para ser lido muitíssimas vezes. Exemplo de sua enorme capacidade de testemunho dum roteiro lírico, dum movimento rítmico de ação continua, duma originalidade incessantemente cultivada num alargamento espacial onde seus tipos criados têm oportunidade de expandir-se em implicações sutis, num aparato episódio solene e drástico, contudo movido por um realismo, cru, paralisante.

 

Em 1994, o Governo do Estado de Sergipe, por iniciativa da escritora Núbia N. Marques, na época Diretora Presidente da Fundação Estadual de Cultura – Fundesc, publicou na coleção Ofenísia Freire, capa de Ronaldson, uma edição cuidadosa o romance, A Sétima Vez. Neste livro Alina Paim retorna à análise de vida problematizada do velho Teodoro, aposentado, e já sonhando com a tranqüilidade de um cata-vento, vê-se empurrado para a atividade laborativas, pois necessitava criar o neto, colhido pela orfandade. Os esquemas competitivos que na mocidade poderia muito bem enfrentar, o leva a esforço de sobrevivência. A velhice encontra na pena dessa vigorosa romancista o dardo crítico e a reflexão sábia de uma fase de vida humana que, a despeito da labuta já enfrentada, empobrecida por uma aposentadoria irrisória, volta com toda força para buscar o pão cotidiano, dentro das adversidades e dificuldades que cercam um velho.

 

Como integrante do Partido Comunista, Alina Paim exerceu atividades políticas diversas, tendo convivido durante meses com mulheres dos trabalhadores ferroviários que participaram ativamente da grave da Rede Mineira, de grande repercussão nacional. Por isso sofrendo perseguições e pressões de toda ordem inclusive processo judicial. Traduziu trabalhos importantes de Jorge Dimitrof e Vladimir Lenin, além de colaborar em vários periódicos O Momento (BA), Época (SE), Leitura (RJ), dentre outros, sendo que essas colaborações eram em sua maioria, capítulos dos seus livros.

 

 

* Jornalista, pesquisador e professor universitário.

 

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