VOZ
DO VENTO
(Enrique
González Martínez)
A
canção que não crave
Na
metade do peito
Como
dardo flamígero
Um
estremecimento
Deixa
que se disperse
Na
escapada de um vôo
Como
pássaro errante
Que
se mira à distância –
Deixa
que se dissipe
Sem
o vibrar de um eco
Na
neblina, na sombra
E
no silêncio.
No
fundo da alma existe
Um
lago de polidos
Cristais,
que se assemelha
A
um misterioso espelho.
Na
quietude do lago,
O
milagroso verso,
Qual
davídica funda,
Lança
o tiro certeiro,
E
se agitam as águas
Em
círculos concêntricos,
E
mostram-se um instante
Vindas
do fundo seio
Todas
as velhas coisas
Guardadas
pelo tempo:
Ânsias,
choros, sorrisos
E
lembranças.
Deixa
ao cantar fecundo
O
espírito aberto;
Quebre
as límpidas ondas
O
seixo do fundeiro;
Mas
a voz que não crave
Na
metade do peito
Como
dardo flamígero
Um
estremecimento
Deixa
que se disperse
Na
escapada de um vôo,
Deixa
que se dissipe
Sem
o vibrar de um eco...
Dessa
hora infecunda
Ante
o passo sinistro
Em
que a voz da alma é apenas
A
inquieta voz do vento,
De
tua morada íntima
Fecha
todas as portas
E
ouças não mais o ritmo
Do
silêncio.
(Traduções
de Renato Suttana)
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