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Nicolau Saião, Mariana 1 (arte digital)

 

Poemas de Emily Dickinson

 

 

Não sou Ninguém. E tu?

És tu Ninguém também?

Somos um par então?

Sabes: – Não digas! – argüirão.

 

Maçada ser – Alguém!

Tão vulgar – como um sapo –

Cantar um nome, o mês inteiro

Para o bobo atoleiro.

 

 

 

Com massa vítrea modelamos

uma pérola aparente:

soltamo-la de repente –

e bem tolos nos julgamos.

 

Mas as formas eram as mesmas –

e nossa inexperta mão

aprendeu lapidação

praticando com areias.

 

 

 

Raciocino: a terra é estreita

e só a angústia absoluta –

tanta coisa nos machuca –

mas e daí?

 

Raciocino: morreremos –

por mais vida que se tenha,

logo vem a decadência –

mas e daí?

 

Raciocino: que no céu

as contas serão fechadas –

nova equação formulada –

mas e daí?

 

 

 

Bem sei que em algum lugar

existe um Ele – em silêncio –

que oculta seu viver raro

de nosso grosseiro olhar.

 

É só um instante, uma peça,

uma amorosa emboscada –

para fazer que a alegria

numa surpresa aconteça.

 

Mas se termina o brinquedo

em pungente seriedade –

se o olho do prazer vislumbra

o olho da Morte severa:

 

não haveria o folguedo

custado caro demais?

 

 

 

Uma campina faz-se

De um trevo e de uma abelha -

Um só trevo, e uma abelha -

E a fantasia.

A fantasia só - se poucas

São as abelhas.

 

 

(Traduções de Renato Suttana)

 

 

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