Poemas
de Emily Dickinson
Não
sou Ninguém. E tu?
És
tu Ninguém também?
Somos
um par então?
Sabes:
– Não digas! – argüirão.
Maçada
ser – Alguém!
Tão
vulgar – como um sapo –
Cantar
um nome, o mês inteiro
Para
o bobo atoleiro.
Com
massa vítrea modelamos
uma
pérola aparente:
soltamo-la
de repente –
e
bem tolos nos julgamos.
Mas
as formas eram as mesmas –
e
nossa inexperta mão
aprendeu
lapidação
praticando
com areias.
Raciocino:
a terra é estreita
e
só a angústia absoluta –
tanta
coisa nos machuca –
mas
e daí?
Raciocino:
morreremos –
por
mais vida que se tenha,
logo
vem a decadência –
mas
e daí?
Raciocino:
que no céu
as
contas serão fechadas –
nova
equação formulada –
mas
e daí?
Bem
sei que em algum lugar
existe
um Ele – em silêncio –
que
oculta seu viver raro
de
nosso grosseiro olhar.
É
só um instante, uma peça,
uma
amorosa emboscada –
para
fazer que a alegria
numa
surpresa aconteça.
Mas
se termina o brinquedo
em
pungente seriedade –
se
o olho do prazer vislumbra
o
olho da Morte severa:
não
haveria o folguedo
custado
caro demais?
Uma
campina faz-se
De
um trevo e de uma abelha -
Um
só trevo, e uma abelha -
E
a fantasia.
A
fantasia só - se poucas
São
as abelhas.
(Traduções
de Renato Suttana)
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