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Nicolau Saião, Sem título (arte digital)

 

CEDRIC ELLIOT MORRISON

 

TRÊS poemas

 

1.   1. E assim chego

- colete, calça e paletó.

 

E sento-me, feliz da vida

na esplanada quase deserta.

 

Espero os ventos do sul

os musgos do norte

o sol de um pouco à esquerda do sudeste.

 

Talvez relinche como uma estrela fogosa

 talvez chame o criado   e fique mudo.

 

Talvez, quem sabe, me espante um bom bocado

chapéu de feltro cinzento na cabeça

dócil e omnipresente.

 

Que pergunta, interrogo-me perplexo

fiz a mim mesmo há pedacinho?

 

 

2.   2. As árvores

Não as que vi em criança

umas de roda do luar espelhado 

no pequeno tanque

outras em dia de mortos 

aparecendo  desaparecendo

como presenças  incertas

Não as árvores de repente ternas

como sementes

remotas como pedras

 

Mas as que gravitam em torno de nós

aflitas

 

silenciosas como um pensamento.

 

 

3. Nas arribas de Cape Cod

aí pela manhã

um tipo pensativo põe-se a recordar

os tempos dilectos da juventude

quando trabalhava com o velho Miles

o carpinteiro tisnado de camisas de algodão

E ambos galhofavam serenamente

um em frente do outro, de pés em cima da mesa

 

na sala traseira da vetusta lojeca

atestada de móveis como dantes se faziam

perto do farol do arquipélago de Shoals.

 

“Quando o vento acalmava, rapariga

a morte e a doença à porta não chegavam

à porta não chegavam, digo-te eu

minha garota, minha garota bela!”

 

Miles, rei das cadeiras e das mesas

o das camisas baratas de algodão...

 

Colete, calça e paletó

e às vezes uma rosa na mão direita

- mas não como se fôsse um troféu.

 

E tudo sem palavras, sem um gesto

sem sequer uma canção que vem de longe

 

que vem de muito longe     e ressoa.

 

 

(Tradução de Nicolau Saião)

 

 

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