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OS DESAFIOS DA POESIA

 

(Aleílton Fonseca)

 

 

A poesia é sempre um desafio. Para constituir-se enquanto voz lírica, o poeta precisa enfrentar os seus limites passo a passo e desafiar a linguagem estabelecida, alargando as formas de dizer os sentidos do mundo. O grande poeta Carlos Drummond de Andrade já disse, em versos célebres, que "Lutar com palavras/ é a luta mais vã./ No entanto lutamos / mal rompe a manhã". A poesia é uma busca sem trégua, um esforço renovado, uma luta constante com as imagens e as palavras.

 

O poeta Moacir Eduão está atento a isso. Seus livros mostram uma trajetória de busca e de luta constante em busca da melhor expressão. Seus poemas seguem as trilhas da procura, da aproximação, do contato, da comunhão com a percepção lírica, da existência e da íntima convivência com a inquietação das palavras. É nessa viagem ao sentido das coisas que Eduão afirma:

 

despeço-me

da sempredade das coisas

como quem foge dos pontos de chegada

fujo dos pontos de partida.

 

A sua poesia é um canto inquieto diante das contingências de viver e sentir o ritmo do tempo e da vida, refletindo sempre sobre a condição humana num mundo inóspito, no qual a poesia parece ser dispensável.

 

Em Eduão, há um eu lírico que prima por revelar suas inquietações existenciais, quase sempre de modo indireto, trilhando por um não-lugar, como uma existência fluida, sem interesse na partida nem na chegada, mas sim valorizando sobretudo a experiência do percurso.

 

Eduão tem um pacto irresistível com a efetividade da palavra. Para o poeta o canto poético simboliza o próprio ato de viver, que repele o silêncio como ameaça à poesia e ao ser humano:

 

o silêncio é como cicuta:

se escuta...

se morre.

desaparece ou se agiganta

quem bebe desse cálice.

 

A poesia de Moacir Eduão tende a crescer cada vez mais, em expressão e forma, e assim se instaurar plenamente, sem receios nem limitações. De fato, as imagens que transitam em seu discurso são leves e exatas, constituindo um apelo conjunto ao intelecto e ao sentimento. Isto nos leva à meditação sobre o futuro próximo, sobre a existência e a feição lírica das palavras. Enfim, essa é uma poesia que nos alerta que os sentidos da vida estão em nós mesmos, em nosso potencial de exercer a nossa condição humana. E isso é uma grande contribuição.

 

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