ABSTRAÇÃO
(Renato
Suttana)
Não
posso dizer há quanto tempo estou aqui. Também não posso dizer exatamente
qual seja a minha situação - em que lugar me encontro e em que posição
se encontra o meu corpo neste lugar. Há quanto tempo estou aqui é uma
pergunta que já desisti de fazer, embora não possa dizer que se tenha
dissipado inteiramente de meus pensamentos. Às vezes (se isto que vou dizer
tiver algum sentido), penso que fazer a pergunta seja por si mesmo um modo
de marcar o tempo ou de sentir que existe qualquer tempo sobre o qual me
perguntar. É um modo de tomar consciência de algum tempo, embora no
próprio ato de tomar consciência eu sinta que na consciência que dele
tomo não existe nenhuma realidade de tempo. Assim, posso estar aqui há cem
anos, ou há um mês, ou há alguns instantes apenas, e nada disso poderá
ter para mim nenhum sentido de conclusão. Apenas faz parte da consciência
que tenho do tempo (afinal, se tenho estado aqui desde há algum tempo, é
legítimo que eu me pergunte por quanto tempo), sem consistência de verdade
ou de constatação e sem nenhum sentido de realidade. Estou aqui há algum
tempo, e quando digo isso tomo consciência de que o sentido que atribuo a
essa frase não tem suporte nos fatos exteriores, como se ela - a frase - me
tivesse surgido por acaso, num lapso do pensamento, sobre o qual não pesa a
forma definitiva da realidade. E talvez seja a frase que me conduza à
pergunta - essa frase acidental e vaga que eu pronuncio em pensamento e que,
após revirá-la no pensamento, auscultando-lhe todas as possibilidades de
sentido, deixo dissipar-se em plena impossibilidade de lhe dar sentido, como
círculos que se alargam e se desfazem lentamente sobre uma superfície de
água contra a qual se tivesse atirado uma pedra.
Também
a consciência que tenho de estar em algum lugar carece de comprovação ou
não pode ser testada empiricamente. Tal como todas as minhas flutuantes noções
de tempo (e perdoem-me pelo modo um tanto impreciso como tento exprimir
esses pensamentos), minha noção de pertencer a algum lugar - de me
encontrar neste momento a ocupar uma porção precisa do espaço - é uma noção
periclitante, que às vezes se adensa em determinados pontos, mas que, na
maior parte do tempo, flutua em meus pensamentos como um corpo de alga que
flutuasse entre um emaranhado de corais. Entretanto, nos pontos em que
parece adensar-se, toma freqüentemente o aspecto de uma noção a que
pudesse corresponder certa realidade - manifesta, por exemplo, na
possibilidade de ouvir ruídos ocasionais ou de sentir que, na espessa
sombra de ao redor, certos movimentos se insinuam. São sensações
imprecisas, realmente fantasmais, que não sei se devo atribuir às ilusões
do pensamento ou se devo considerar como invenções de meus sentidos
longamente degenerados pelo desuso (ou por um modo doentio de empregá-los,
que tem os efeitos do desuso). Também não sei se estou parado - sentado ou
de pé - e muito menos posso dizer que me encontro em movimento. Uma sensação
inquietante de ter sido lançado em disparada numa direção que não sei
definir me faz pensar que estou em movimento, mas a sensação é breve e
logo cessa, para ser substituída por uma enorme letargia e pelo sentimento
da imobilidade. Talvez uma parte de mim, somente, esteja em movimento, e
pode ser que a outra parte se encontre em repouso, mas trata-se apenas de
uma hipótese, que não posso comprovar com dados concretos, sejam eles os
dados da luz ou os simples sons de coisas aproximando-se ou afastando-se à
minha volta (os quais me diriam se me encontro realmente em movimento neste
espaço desconhecido).
A
noção que tenho de meu corpo é dual e, não raro, contraditória. Em
certas ocasiões, sinto que alguma coisa se desloca em mim e se comunica
consigo mesma por meio de minha consciência - como se desfrutasse de uma
estranha liberdade que a torna exterior ao que sou -; porém essas ocasiões
não são freqüentes. Noutras, tudo se acha parado, estanque numa
imobilidade fria, ocupada apenas pelos pensamentos, que não podem se dar
nenhuma noção consistente da exterioridade. Antes, pode-se dizer que eles
giram em torno de si mesmos - como grandes sombras voláteis que o movimento
de girar fizesse assumir formas diversas. Às vezes, a sensação é de que
podem viver por si mesmos - esses pensamentos -, que têm em si o fundamento
de seu ser e que não precisam de nada exterior para existirem. Mas isso é
apenas uma impressão. Pode-se também dizer que, de algum lugar exterior a
eles, lhes chega o influxo da realidade - por imagens, lembranças e sensações
- e que esse influxo os preenche e os inflaciona ao ponto de uma saturação.
São os meus próprios pensamentos, eu me digo, quando me dou consciência
disso. São os pensamentos do que está lá fora e que o que está lá fora
preenche. É uma experiência desesperadora tentar reter e dar realidade às
próprias idéias, dispondo de tão pouco para tal tarefa e não dispondo a
não ser delas mesmas para realizar o grosso dessa tarefa.
Do
lado de fora está o que denomino de realidade. Pode ser apenas um sonho
dessa realidade, mas eu preciso afirmá-la para ter ao menos um ponto de
partida. Quando me percebo presente aqui - onde quer que seja -, tenho de me
perceber presente na realidade. Não se trata de um subterfúgio de
pensamento que forjei para suprir uma necessidade da consciência. Trata-se
daquilo mesmo que torna possível pensar tudo isso e dizer que, seja como
for, estou presente em algum lugar. Se a idéia de movimento tivesse o mínimo
de consistência, talvez fosse mais fácil conceber a possibilidade do espaço
(pois, afinal, todo movimento teria de acontecer no espaço), porém não
disponho dessa consistência. Estou apenas onde estou, olhando à minha
volta e percebendo as imagens, e estar olhando e percebendo as imagens é
tudo o que tenho agora. Fora disso, naufrago em conjeturas: afundo-me em hipóteses
que nada mais são que conseqüências de outras hipóteses. De certo modo,
todos os pensamentos são hipóteses, exceto essa consciência de realidade,
mas mesmo por cima dela tudo o que se forma, se desenvolve e flutua são hipóteses.
Os pensamentos que elaboro a respeito disso não passam de projeções de
outras hipóteses mais vastas, mais decisivas, e que são tão sub-reptícias
que eu não posso sequer pensar nelas sem que me venha uma vertigem.
Adormecem no fundo, inalcançadas, ou espreitam no fundo, ameaçadoras. Mas
na superfície onde vivo tudo se manifesta como sucessão e como inconsistência,
de modo que não posso conceber nem mesmo a suspeita do que sejam tais hipóteses
e da extensão de meus equívocos.
Disse
que não sei há quanto tempo estou aqui. Disse-o como se tentasse
estabelecer um ponto de partida, e agora percebo que tal ponto de partida
seria tão arbitrário quanto tudo o mais. O ponto de partida não teria
nenhuma razão para estar onde o situo. Dentro de meus pensamentos, o ponto
de partida é qualquer um - e pode ser um rosto, um fragmento de memória ou
uma sensação. O que mais me exacerba quando penso nele é o fato de que,
sempre que penso nele, alguma coisa se inicia em mim. Se pudesse apenas
entregar-me ao fluxo dos pensamentos, bem poderia ser que nada mais se
iniciasse, que os pensamentos, sucedendo-se indefinidamente, se anulassem
uns aos outros. Entretanto, quando me distraio (quer dizer, quando se
afrouxa essa espécie de concentração que seria estar inteiramente
entregue a um fluxo vazio de pensamentos), reaparece a pergunta, como se
brotasse inesperadamente de um solo que eu julgara estéril, e deflagra uma
impressão de começo. Em circunstâncias normais, não haveria perguntas.
Quando a concentração se afrouxa, há uma pergunta acerca do tempo. Há
uma pergunta que me leva a uma outra pergunta - por exemplo: por que me fiz
essa pergunta - e em breve toda uma sucessão de perguntas se deflagra. Em
circunstâncias normais eu não me faria nenhuma pergunta. Apenas giraria,
neutro e inconsciente, entregue ao movimento de minha própria concentração,
e não haveria esta sensação de começo. Mas as circunstâncias raramente
são normais, quer dizer: não há nada em mim que eu possa chamar de
normalidade. Encontro-me, apenas, entregue a esta sorte de fluxo que se
assemelha a um sonho, e é em tal letargia que fico sujeito ao assalto das
perguntas - que me fazem sempre recomeçar, seja para me dar consciência de
que nada sei a meu respeito, seja para me dar uma dupla consciência de que,
nada sabendo, esse mesmo nada saber já se constitui num saber.
Ora,
que tipo de consciência tenho de mim? Caso tenha alguma, será certamente
uma consciência vazia, sem qualquer promessa de afirmação. É o que mais
me surpreende no tipo de consciência que tenho de mim, isto é, o fato de
que nela nada se afirma efetivamente. Assemelha-se a uma flutuação por
entre ramagens. Assemelha-se ao esforço de nadar contra essas ramagens, com
a diferença de que as ramagens são os meus próprios pensamentos. Não
dispondo a não ser dessas imagens que me chegam de fora - e que incorrem
numa horrível arbitrariedade, surgindo de repente e se apagando em seguida,
como bolhas de ar à superfície da água - para firmar meus pensamentos,
toda possibilidade de consciência se acha comprometida com a
arbitrariedade, que é também o modo como as imagens se manifestam. Talvez
eu devesse me contentar com isso, convencendo-me de que, se esse é o modo,
minha consciência de mim deveria ser uma projeção desse modo. Porém me
angustia enormemente pensar que estou à mercê desses caprichos, desses relâmpagos
que de repente recortam a escuridão e me trazem o que estou denominando de
imagens. Vêm e vão no silêncio confuso da sombra. Não sei que tipo de
realidade manifestam - não sei que realidade atribuir a elas. Apóio-me
nelas, de algum modo; digo que elas existem exteriormente a mim, digo que o
fato de que elas existam exteriormente a mim é uma confirmação de que eu
existo também exteriormente a elas. Mas delas nada me fica a não ser a
impressão de persistência, que logo se afunda na sombra e se mistura à
vasta incerteza que minha consciência tenta fixar na escuridão.
Nada
me dizem do tempo ou do espaço - são vagas e flutuantes demais, ou fugazes
demais para que a partir delas eu possa calcular minha posição. Freqüentemente
me dão a impressão de que se aproximam ou de que se afastam, como se, após
se moverem para perto, se movessem rapidamente para longe. Para me
certificar desse fato eu teria de encontrar à minha volta um ponto fixo que
me servisse de referência; porém, quando vasculho a treva, só o que
descubro é a própria treva que tudo submerge ao meu redor numa unidade imóvel
e dura. Fica-me a impressão fantasmagórica de que se aproximam e de que se
afastam, de um modo surpreendente que não há como especificar. Estou à
mercê desse modo. Torno-me como que um resultado desse modo insignificante
de manifestação. Minha consciência talvez não seja mais que uma projeção
dessas imagens que relampejam em volta, durando mais ou menos ou durando
apenas o tempo suficiente para que eu as perceba e depois submergindo para
sempre no vazio. E aqui também estou à mercê do que elas me dizem.
Desperto para a questão de que, de um modo ou de outro, elas têm uma certa
duração, descubro de repente que nada sei sobre essa duração a não ser
o seu próprio jogo inconseqüente. Quero dizer: nelas, e no tempo que me
fazem descobrir, o tempo se arruína inteiramente, desmoronando em
fragmentos de tempo que se entrechocam, se contradizem e se consomem uns aos
outros. É toda a minha consciência de um tempo exterior a mim. É tudo o
que sei a respeito do tempo das imagens e das sensações que me falam de um
mundo exterior mas que não são capazes de prová-lo de um modo justo e
definitivo.
Interiormente,
a consciência que tenho do tempo é aquela que me vem de quando digo
“eu” em meus pensamentos. É um tipo diferente de consciência, nascida
de outros dados que não de um jogo de imagens, mas é também um tipo que,
se perquirido a fundo, só me conduz à perplexidade. Quando digo “eu”
em meus pensamentos, alguma coisa se estabelece. Deduzo, por exemplo, que,
ao dizer “eu”, me é possível saber alguma coisa sobre o que digo.
Deduzo que o “eu” que digo corresponde de algum modo ao “eu” que sou
exteriormente às palavras, e que esse “eu” é alguma coisa presente na
história do que digo e do que penso. Suponho que tenha estado aqui antes de
que eu o dissesse e me surpreendo ao pensar que ainda estará aqui quando eu
já o tiver dito e me tiver calado. É o máximo de verdade que posso
extrair de tudo isso: uma dedução que extraio não desses dados
exteriores, mas da suposição de que, se estou dizendo o que quer que seja,
tenho consciência de que o estou dizendo, e de que tal consciência me dá
o “eu” que libera minha consciência do tempo. Fora disso, tudo é
incerteza e desmoronamento. Sequer a tentativa de saber onde estou pode
encontrar comprovação, pois isso me colocaria em contato com uma
exterioridade sobre a qual nada sei e em meio à qual me encontro à deriva,
tecendo suposições que geram apenas novas dúvidas.
Às
vezes, para acalmar minhas ansiedades, resolvo pensar que, seja como for,
estou parado - sempre estive parado - no mesmo lugar. É apenas um subterfúgio,
evidentemente, que invento para solucionar um problema e que logo descubro
me põe de braços com mil contradições. Para ter uma noção qualquer de
lugar, seria necessário que as imagens se estabilizassem e que me
trouxessem um sentido de exterioridade de que não é possível dispor.
Confinado ao espaço de meus pensamentos, não posso viver senão de suposições
concernentes à minha periclitante situação - suposições que pesam sobre
mim como fardos. Primeiramente, tomo como ponto de partida a noção de que,
se existe em mim a consciência de que existo, então é possível dizer que
existo em algum lugar. Não posso dizer qual seja esse lugar, não
posso sequer imaginá-lo (o que estaria inteiramente fora de minhas
possibilidades), mas posso supor sua existência, estabelecendo com ele uma
relação primária de necessidade. É pouco, decerto, pois nada posso
construir com tão mesquinho material; no entanto é o que tenho e o que
utilizo para estabilizar minha consciência de que sou. Se essa
consciência não depende, para se constituir, de uma noção precisa de
“espaço”, ela o supõe, pelo menos, e se converte ela mesma num
fundamento. Mas o que estou dizendo? De que me serve apenas pensar que, se
existo, existo em algum lugar, quando nada posso saber desse lugar senão
que existo nele? Trata-se, pois, não tanto de um espaço exterior onde
existo ao lado de todas as coisas, mas de um espaço próprio de minha
consciência, onde ela existe em semelhança consigo mesma, e que, no espaço
exterior de todas as coisas, não é mais que um espaço qualquer? Ou
se trata de um espaço absoluto, onde existi desde sempre, parado, imóvel
no mesmo lugar, pensando que, pela impossibilidade de conhecê-lo, eu me
esteja a mover por todos os espaços do mundo?
Quanta
fragilidade nesses pensamentos! Pensar que me movo por todos os espaços do
mundo é uma pretensão que não devo ter. Do mesmo modo como não posso
dizer que permaneço parado, dizer que me movo para onde quer que seja
carece inteiramente de sentido, porque não tenho como sabê-lo. Ao mesmo
tempo, parece-me irrelevante, uma vez que, se me escapa a consciência do
que sou, me escapa também a consciência de qualquer aspecto do meu ser.
Tenho apenas os pensamentos desse ser, lançados uns de encontro aos outros,
no tumulto, em entrechoques de infinitas contradições. Minhas lembranças
de ter sido carecem de nitidez, e as projeções do que serei me surgem
gratuitas no pensamento. Minha intenção de ser semelhante a mim se
desmantela numa sucessão de desvios. Encontro-me à deriva no interior de
alguma coisa que não sei nomear - meus pensamentos são vagos, céleres
como relâmpagos no escuro, e estão adulterados por imaginações. Tento
comunicar-me com o que quer que seja à minha volta, imagino-me a dirigir
acenos a uma sombra que desliza à minha volta e logo percebo que meus
acenos não passam de miragens. Com atordoadora facilidade, observo minhas
melhores intenções se converterem em conjeturas, confundidos gesto e intenção
no mesmo pensamento que os concebeu. Meus pensamentos inventam os gestos que
imagino executar na escuridão. Sem corpo de onde surjam e se manifestem,
esses gestos se perdem no esquecimento, incapazes de me dar qualquer lembrança
de que os encetei ou de que os intencionei realmente. Meus pensamentos
ocupam o espaço do que sou como uma espécie de estofo que, uma vez
retirado, se observaria que não serve senão para estofo. Nada podem
afirmar de exterior a si próprios e, no entanto, não podem afirmar-se a si
próprios. Giram ao capricho dos ventos, desmantelando-se a cada passo como
invenções do vento que o vento sozinho, girando, se encarregasse de
agregar e de desmantelar.
Não
posso dizer há quanto tempo estou aqui e, então, tomo consciência de que,
se existe uma verdade em mim, é a verdade dessa imensa ignorância.
Perplexo, examino cada possibilidade de sentido que me traz - investigo cada
recanto do sentido. Descubro, após os primeiros instantes, que nenhum
sentido prevalecerá. Descubro-me como um sobrevivente de todo sentido e
tomo consciência de que, se algum sentido se formar, será em decorrência
do fato de que eu sou aquilo que persevera após o fracasso de todos os
pensamentos. Torno-me assim exterior às minhas idéias. Faço-me exterior
ao meu desejo de fixação, como se me tornasse exterior àquilo que - se
houvesse tal possibilidade - seriam os desmembramentos do que sou. Existo,
apenas, no vazio, que refrata qualquer perspectiva de resposta. Flutuo às
cegas num mar de indecisão que expulsa o sentido das perguntas, deixando-me
à mercê de todos os caprichos. O sentido que descubro nesta ou em qualquer
pergunta é só uma projeção de alguma coisa que ignoro e que, incapaz de
se manifestar como coisa, se manifesta como pergunta e como ausência. Tudo
o mais é deslocamento e arbitrariedade, que são as formas sobre as quais,
persistente, minha consciência se debruça. Seja onde quer que seja ou em
que tempo for - meu “eu” (esse nada de sombra que se contorce na sombra)
é o mero resultado ou menos que uma conclusão que tiro de tudo isso, após
haver negado todas as premissas. Não há premissas no vazio, tal como não
existe um tempo ou um espaço ou formas exteriores que se pudesse nomear
como tais. Sozinho e fraco, percorro uma grande extensão de meus
pensamentos, para me cansar no final e cair, exausto de ter percorrido em vão
uma extensão que não tem medida e que não se pode percorrer. Tombo, no
final de minha corrida, como se tombasse de bruços sobre a areia. Ou,
antes, abraço-me a uma grande forma desconhecida como se me abraçasse a um
rochedo - e penso por um momento repousar.
Mas
aquilo sobre o qual tombei não tem presença ou duração. É só uma
suposição dos pensamentos que percorri e que, após neutralizados estes últimos,
se revela como uma extensão da sombra - um seu prolongamento - na sombra
ingente e imemorial. E o rochedo sobre o qual me vejo tombar sou eu mesmo, a
rodopiar sozinho na escuridão.
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